De forma surpreendente, o Salgueiro, jogando em casa, perdeu para o Afogados, por 3×2, a terceira colocação do Campeonato Pernambucano e, por tabela, a vaga na Copa do Brasil 2020. E também perdeu seu técnico. Sérgio China foi demitido do cargo. O Afogados, que já havia eliminado o Santa Cruz no Arruda, fez história. Mas o resultado acende o sinal de alerta para o Estadual: onde está a interiorização do campeonato que a Federação Pernambucana de Futebol tanto proclama?
A intenção da FPF é válida. Dá oportunidade para a sociedade interiorana assista aos jogos do Estadual e que equipe sejam montadas para movimentar o setor social, econômico e esportivos das cidades. Eu acredito demais nessa proposta. Até porque, se não fossem as equipes do interior, o que seria do Estadual? Apenas um triangular entre Sport, Náutico e Santa Cruz. O problema é que os clubes vivem com pires na mão e não oferecem uma mínima estrutura para uma disputa digna ou vislumbre um horizonte de evolução.
Para manter a interiorização, a FPF não é tão rigorosa com os clubes do interior quando o assunto é estrutura dos estádios. As condições para o torcedor assistir aos jogos é a pior possível e o mesmo se pode falar das estruturas internas. Os vestiários, por exemplos, não dão condições alguma para os times se prepararem para o jogo. Os clubes fazem o esforço mínimo para ter o “ok” da FPF e entram na disputa sem a mínima ousadia de fugir da zona de conforto. O que é preciso para esses clubes é que a sociedade das suas cidades abracem a causa. E vejam no esporte uma forma de gerar receita, mídia e formem cidadãos.
O Salgueiro, por exemplo, teve um apoio forte de Clebel Cordeiro, um empresário que investiu forte no Carcará e o transformou na quarta força do futebol pernambucano. Chegou até a Série B do Campeonato Brasileiro e disputou duas finais do estadual, perdendo ambas (contra o Sport e Santa Cruz). Com o seu afastamento, o Salgueiro não foi mais o mesmo. Vez por outra, faz bonito. Mas, em geral, é um coadjuvante sem brilho. Puxando a memória, Caruaru já teve um Porto brilhante, quando chegou a ser vice campeão pernambucano em 97 e 98, sob a tutela do empresário José Porfírio. E em Santa Cruz do Capibaribe, o Ypiranga, que tinha o apoio financeiro da empresa Rota do Mar.
O Central já poderia estar à frente desses clubes há bastante tempo. Mas, pelo contrário, está há bastante tempo no mesmo lugar. Sem saber construir seu futuro. Passou nas mãos de inúmeros presidentes, mas nada de evolução. E olhem que a Patativa tem uma torcida apaixonada, que veste mesmo a camisa para apoiar o time. Não tem essa de o Central ser o segundo time. Só tem ele e pronto. Mas, em Caruaru, o clube alvinegro não consegue se firmar e evoluir. Para mim, perdeu até o posto de quarta força do futebol pernambucano, como era nos anos 80 e 90.
Com o fim do Estadual, a maioria dos clubes fecham suas portas. Os atletas vão jogar em outros clubes, logicamente. Afinal, ninguém quer ficar parado e tem contas para pagar. A evolução desses clubes passa pela criação de algum estímulo para o segundo semestre. Como isso não existe e ninguém pensa para resolver essa lacuna, a história se repete. A derrota do Salgueiro na decisão do terceiro lugar mostra que o Carcará já não é mais o mesmo. E a diretoria já pensa nas vacas magras já que, fora da Copa do Brasil, não vai ter a generosa cota da CBF. Talvez o problema esteja na forma de olhar o problema. Ao invés de focarem na solução, atormentam-se com o problema. E limitam-se a encher o pires com parcas moedas.