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Por Daniel Schvartz
O mundo está sempre em constante transformação. Já passamos pelas gerações X e Y, chegando na Z. A tecnologia, aliada à internet, cada vez mais dita o ritmo ao nosso redor. A expectativa é que, em 2045, viveremos em um planeta completamente novo, adaptando o nosso convívio com robôs altamente inteligentes.
Pois bem, com tantas mudanças, também podemos destacar a evolução no futebol. Nem falo de VAR, aparelhos médicos ou as formidáveis Arenas. Isso foi uma consequência das inovações de uma forma geral, que vieram de fora das quatro linhas para auxiliar nessa modernização. Mas, o importante é destacar as alterações na forma de jogar. Os desempenhos táticos, a visão de jogo e os objetivos desses novos trabalhos.
Para explicar melhor, precisamos dar um mergulho na história e focar em uma equipe específica: o Ajax. O time holandês foi o responsável por iniciar uma mudança importante na forma de jogar futebol. Tudo começou com Jack Reynolds, que comandou o elenco vermelho e branco por 33 anos (em três passagens), com a filosofia do estilo “futebol total”.
O ALUNO SUPERA O MESTRE
Um dos comandados por Reynolds foi Rinus Michels que, após pendurar as chuteiras, foi o responsável por apresentar ao mundo a ideia de jogo absorvida com o seu antigo treinador. Michels iniciou a trajetória no Ajax no ano de 1965, quando teve também a sorte de receber alguns “monstrinhos” que surgiram nas categorias de base do clube, com destaque para Johan Cruyff.
Como já dizia o nome, o jogo do Ajax era esmagador. Sempre abafando o adversário e saindo com velocidade, rápidas trocas de passes e muita qualidade técnica. Para muitos, o verdadeiro significado de futebol. O que se via era uma aula dentro de campo. Na temporada 1969-70, por exemplo, o Ajax jogou 34 partidas no campeonato holandês, perdendo apenas uma e marcando 100 gols. Ao todo, Rinus Michels levou 4 Campeonatos Nacionais, 3 Copas da Holanda e 1 Champions League.
Em 1974, teve a oportunidade de comandar a seleção holandesa, na Copa do Mundo da Alemanha. A Laranja Mecânica fez questão de mostrar o que estava sendo desenvolvido em seu país. O estilo de jogo logo ganhou o apelido lembrado até hoje: “O Carrossel Holandês”. O nome foi dado porque os jogadores não guardavam a posição. Todos rodavam por todo o campo. Quando o adversário tinha a posse da bola, quatro jogadores apertavam para tomar. Infelizmente, o “futebol total” não conseguiu superar a Alemanha de Beckenbauer e Müller, ficando com o vice.
IDEOLOGIA CONSOME A EUROPA
Os principais campeonatos de futebol, hoje, são na Europa. Todos com extrema velocidade, força física e muita, mas muita técnica. Reúne a nata dos jogadores mundiais. E Johan Cruyff teve uma grande parcela de “culpa” nisso.
Quando se tornou treinador, comandou o Ajax por dois anos até se transferir para o Barcelona. Foi no time Catalão que o então comandante conseguiu implantar a herança holandesa e servir como vitrine, até hoje, para os clubes do restante do mundo. Foram oito anos de trabalho que se estendiam à base do Barça.
Pep Guardiola, treinado por Cruyff, foi quem pareceu ter melhor assimilado a proposta trazida pelo holandês. Foi o responsável por dar continuidade ao estilo de jogo e recolocou o Barcelona no topo da Europa apresentando um padrão de jogo e uma qualidade técnica insuperável.
A GERAÇÃO Z DO AJAX E O NOVO “CARROSSEL”
Depois de anos sem despertar o interesse do futebol mundial, o Ajax voltou a figurar entre os melhores da Europa. Lidera o Campeonato Holandês, está nas semifinais da Champions League (contra o Tottenham) e vai decidir a Copa da Holanda. Novos jogadores surgiram como Van De Beek, Matthijs De Ligt e Frenkie De Jong (esse já acertado com o Barcelona). Aliada à sua política de contratar novas promessas mundiais, como o brasileiro David Neres, o Ajax tem um elenco com 23,9 de média de idade e um arrojado 4-2-3-1, capaz de causar estrago em grandes adversários, como Real Madrid e Juventus.
Na atual edição da Champions League, o Ajax precisou jogar a fase eliminatória para ganhar a vaga no Grupo E. Dos 16 jogos feitos até agora, só perdeu um, para o Real Madrid, por 2×1. Foram 32 gols marcados e 14 sofridos.
Com a marcação alta (muitas vezes cinco atletas pressionam ainda no campo do adversário), jogadas rápidas e muitos toques de bola, o Ajax lembra muito o time e a filosofia implantada no clube nos anos de ouro (décadas de 60 e 70). Do meio para frente, todos atacam e defendem. E, como em 1974, a base do time também serve à seleção. Depois de anos no marasmo e a não ida à última Copa do Mundo, a Holanda volta a dar sinais de crescimento justamente com esses atletas. Estar entre os quatro melhores da Europa não é obra do acaso. É a recompensa de um trabalho bem feito. Com todas as menções ao atual treinador, Erik Ten Hag, responsável por esse resgate.
Como foi introduzido no início do texto e pode ser comprovada através das idades dos atletas, a geração Z holandesa tenta retomar o seu protagonismo dentro de campo. Mais do que isso. Faz um resgate da sua herança. Causa o saudosismo. Faz o amante do futebol, de fato, reconhecer o esporte.