O 1º de maio caiu justamente num domingo, em 1994. Era ano de Copa do Mundo. E eu contava os dias para o Mundial. Não levava muita fé na seleção de Parreira, mas algo me dizia que seria o nosso ano. Todo domingo, eu acordava bem cedinho e caminhava tranquilamente para o aeroporto para comprar a Folha de São Paulo, que trazia fascículo bem editados e coloridos sobre as histórias dos Mundiais. Domingo também sempre foi dia de ver Fórmula-1. Não muito para mim. Mas para diversos amigos, inclusive meu pai, que sempre foi apaixonado por carros.
Naquele 1º de maio, curiosamente, fui eu que lembrei de ligar a TV para assistir o GP de San Marino, na Itália. Já tinha voltado da minha caminhada ao aeroporto e já havia começado a ler o material da Copa. Ligo a TV e estava lá um carro destruído e Galvão Bueno narrando a cena com tom de tristeza. Segundo depois, falei para o meu pai: “Eita, já tem batida! E é o Senna”. Poderia ser mais um acidente qualquer. Mas não era. O corpo estava imóvel. Percebi apenas a cabeça dele pender para direita. Não desligamos mais a TV até vir a notícia: Ayrton Senna estava morto!
Tudo que chega aos nosso consciente sob forte impacto emocional dificilmente se apaga da nossa memória. Pois bem, todo mundo lembra o que estava fazendo naquele 1º de maio de 1994. Já se passaram 25 anos e todos os detalhes daquele estão guardados na nossa memória. E vem a tona ano a ano graças a um dos grandes heróis brasileiros. Ayrton Senna não era um simples piloto. Era um ser um humano que carregava nas veias uma paixão desenfreada pelo seu ofício. O seu talento, o seu arrojo, o seu comportamento, a sua vontade de vencer, de superar desafios era contagiante. Mexia no coração dos brasileiros. E ele mantinha a simplicidade. Falava esbanjando simpatia como que seu feito fosse algo comum a todos.
E Senna pilotava com maestria numa época em que os pilotos brilhavam muito mais pelo seu talento e sabedoria do que a potencialidade das máquinas. Acompanhei o brasileiro surgindo na pequena Toleman. Depois, indo para a Lotus (o lindo carro preto, que depois virou amarelo, com uma famosa marca de cigarro estampada na lataria). Em seguida chegando no auge na Mc Laren. Nas pistas enfrentou Alain Prost, Nelson Piquet, Nigel Mansel, entre outras grandes estrelas. Era um gênio nas pistas.
Nunca esqueço do GP de Mônaco de 1992. A TV mostrava Senna em segundo, atrás de Mansel. Mas, como um passe de mágica, ele pareceu na frente. Não se sabe como. Até porque o autódromo de Mônaco é de rua e estreita. Coisa de gênio. A partir dali, o que se viu foi uma perseguição desenfreada do piloto inglês pelo brasileiro. Uma adrenalina explodindo na TV. Difícil sair da frente do aparelho. Na munheca, Senna conseguiu manter a liderança até o final. Foi algo tão intenso que Mansel não conseguia ficar de pé. Foi amparado pelos integrantes da sua equipe. Senna teve dificuldades para levantar o troféu.
Se eu que não era um apaixonado por Fórmula 1 consigo lembrar com emoção histórias como essa, imagina quem adora o esporte e idolatrava Ayrton Senna. Naquele 1º de maio de 1994 o Brasil ficou órfão de um herói. O domingo passou a não ter mais a emoção e vibração de antes. A conquista do tetracampeonato mundial pela seleção brasileira, nos Estados Unidos, arrefeceu a nossa dor. Mas não apagou da nossa memória os feitos daquele piloto genial.
Valeu, Ayrton Senna do Brasil!
Você é eterno!!!