Por Antonio Carlos Muhlert*
A emoção do nosso ídolo Magrão na única entrevista que deu, até agora, após a saída do Sport Recife foi quando falou sobre sua esposa. Emoção zero em relação à torcida. E o que me surpreende é que é um cara de boa índole, 14 anos sem nunca chegar atrasado num treino, discutir com um colega de trabalho, com um dirigente, fazer confusão em renovação de contrato, ser hostil com a imprensa, falar mal dos adversários (Náutico e Santa Cruz, principalmente), nada, nada, nada que desabone sua conduta profissional. Pelo contrário, várias matérias na imprensa ao longo desses anos com gestos e boa atitudes como ser humano: visitar torcedores que estavam doentes em hospital, que precisavam de apoio emocional por situações da vida, senhoras de idade em asilo, a casa de Dona Maria José, nossa torcedora símbolo, encontro com torcedores que fizeram homenagem à ele tatuando na pele, colocando nome no filho, etc.
Várias e várias situações ao longo desse tempo induziam à uma linda despedida, como bem simulou o jornalista Tiago Medeiros numa rede social: a conversa entre pai e filho na véspera, a tensão ao acordar e pensar na festa, a Ilha lotada, os holofotes em cima dele, a volta olímpica, o placar mostrando os 33 pênaltis defendidos, a torcida gritando “é o melhor goleiro do Brasil, Magrão”, muitos chorando, muita emoção envolvida.
Não é possível!!! Quem construiu na cabeça de Magrão essa versão da despedida?! Eu não imagino. São 14 anos. O maior ídolo de um clube de 114 anos. Foi ele. Foi o cara. O maior jogador. O maior de todos. Tudo!!!
Eu vi há uns 15 dias o ídolo do Atlético Mineiro Reinaldo ir com a camisa do clube para um programa de TV, levantar o braço lembrando como comemorava seus gols, gritando “Galooo” o tempo todo. Tudo bem que a gente não pode querer que Magrão tenha a paixão de torcedor que Reinaldo tem com o clube dele, afinal de contas nosso ídolo não foi criança aqui, já veio como profissional. Mas ele se tornou um ídolo. Simplesmente o maior. Imagina Kuki fazer isso com o Náutico. Imagina Luciano Veloso fazer isso com o Santa Cruz. Imagina Rogério Ceni fazer isso com o São Paulo. Pelé com o Santos. Messi com o Barcelona.
Não sei se foi influência da família. Não sei o que aconteceu. Mas é de uma estranheza muito grande. Poderia brigar na justiça a qualquer momento pelos seus direitos. Pronunciava-se para a torcida em respeito a tudo que foi construído. Magrão foi embora sem dar tchau. Sem dizer até logo. Sem cumprimentos.
Um bandeirão da torcida em homenagem ao ídolo. Uma estátua em discussão. Um filme. Como negar tudo isso?
Eu mal consegui dormir da segunda pra terça (08 para 09.07.19). Acordei mal. No outro dia tive dor de cabeça, ânsia de vômito. É algo inaceitável. Inacreditável!!!
O tempo vai fazer a gente esquecer, vai curar. Só o tempo. Mesmo que Magrão não sinta nada por nós, a gente tem muito respeito pelo goleiro que foi. O ser humano Alessandro Beti Rosa falhou feio. Mas a história do Magrão está aí e não pode ser apagada.
Acho que vale a pena insistir. Alguém chegar até ele e conversar para desconstruir essa saída traumática. Ninguém precisa pedir desculpas. Basta humildade de todos: clube, torcida, atleta.
Magrão, conversa com a torcida rubro-negra. Vem aqui. Não joga toda sua história no lixo.
Vale a pena insistir!
Vale a pena reescrever o final!
* Antonio Carlos Muhlert – Sócio Remido e apaixonado pelo Sport Club do Recife