Acordei hoje com a triste notícia da morte do técnico Nereu Pinheiro. Vinha sofrendo com um tumor no cérebro já algum tempo e, agora, ele descansa, aos 71 anos de vida. Uma figura querida que tive poucos contatos diretos. Mas lembro de um que foi sensacional, por mostrar o quanto ele era uma figura humilde.
Eu dividia meu tempo na assessoria de imprensa de Olinda e como repórter do JC. No caminho do trampo, eu folheava a revista Placar. E vi que na seção “Time dos sonhos”, Juninho Pernambucano era o treinador. O ex-meia do Sport escalou um timaço e, como técnico, colocou quem o revelou no futebol: Nereu Pinheiro.
Uma prova de gratidão.
Assim que cheguei no trampo, liguei para Nereu. Ele embargou a voz: “Juninho colocou meu nome? Você jura?? Como faço para ter essa revista??” Fiz questão de dar a minha edição. Marquei uma hora e ele passou na sede da prefeitura e pegou a revista, feliz da vida.
Nereu tem um serviço prestado ao futebol pernambucano que fica difícil mensurar. No Sport, pegou uma bronca danada em 1989. Mesmo assim, levou o time à final da primeira edição da Copa do Brasil. Dez anos depois, outro pepino para descascar. Dessa vez, no Santa Cruz. Crise danada no Arruda e ele pegou o time e o levou à Série A do Campeonato Brasileiro.
Era uma figura de frases engraçadas. Há lendas e lendas que contam ao seu respeito e que fazem qualquer embolar de rir. Contam que, num jogo do Sport, o atacante Rosivaldo, de frente para a trave, cabeceou para fora. Nereu o tirou do jogo na hora. Rosivaldo, na saída do gramado, teria perguntado porque ele estava saindo. E Nereu: “Eu bem não ouvi você cabeceando e dizendo: “Te f…., Nereu!”.
A outra passagem engraçada foi no Santa Cruz, em 1999. Goiás x Santa Cruz, no Serra Dourada. Um empate colocava os dois da Série A. O também já falecido Cláudio Millar fez uma linda jogada e meteu a bola na trave. Nereu, no banco de reservas, ficou louco: “Quer me f…., Milar?”. Em 2004, Nereu esteve comandando o Sport na sonora goleada que sofreu para o Marília, por 7×1. Mesmo o time não jogando, ele só fez uma substituição: tirou Wendel e colocou Leozinho. Perguntaram a ele porque não fez mais mudanças e ele: “Não, senhor… E eu vou me f…. sozinho, é? Fica tudo ai!”
Era mesmo uma figuraça. E tinha um faro para descobrir talento fora do comum. Chiquinho foi um deles. O ex-meia do Sport tem uma eterna gratidão ao homem que o tirou da pelada de Rio Doce e o levou para a Ilha do Retiro. Tanto que sempre o tratou como pai. E assim que assumiu a pasta de secretário de esportes de Olinda, o levou para trabalhar com ele. Prova de amor!
Nereu Pinheiro merece todas as homenagens por sua devoção ao futebol. Por amar cada segundo desse esporte mágico, por respirar essa atmosfera 24 horas por dia durante toda sua vida. E nós que estamos nesse mundo, só temos uma coisa a dizer: obrigado.
Abaixo, pego carona do amigo rubro-negro Fred Borba, que listou alguns atletas que ele lembrou e que foram revelados por Nereu Pinheiro no Sport.
Bosco, Gilberto, Albérico, Givaldo, Sandro, Adriano, Lima, Gilton, Erlon, Edson Miolo, Dinho, Lopes, Glauco, Alencar, Mirandinha, Juninho PE, Chiquinho, Leonardo, Luis Carlos, Neco, Ismael, Joécio…