Lembro muito bem quando a diretoria do Náutico convidou a imprensa para um tour no novo estádio dos Aflitos. Depois de passar anos abandonado por conta da transferência dos jogos do Timbu para a Arena de Pernambuco, o estádio da Conselheiro Rosa e Silva havia passado por uma reforma, especialmente no gramado. Um dos pontos que deu mais orgulho aos dirigentes foi colocar uma nova formatação do setor das sociais em que proporcionava maior contato da torcida com o time.
Essa foi, além do gramado, a mudança mais a olhos vistos do novo estádio dos Aflitos. E ficou bonito, a proposta de integração do time com a torcida também é interessante e moderna. Mas sempre fiquei com uma pulga atrás da orelha. Infelizmente, nosso público não tem a cultura dessa aproximação com a equipe. Quando o time está vencendo, tudo bem. Tudo é festa. Mas quando a crise bate…
Pois bem, a Série B do Campeonato Brasileiro prevê para o próximo domingo a partida Grêmio x Náutico, nos Aflitos. O Timbu está prestes a ser rebaixado, enquanto o time gaúcho vem a Recife com o time com sede de vitória para garantir o acesso à Série A. Sabendo do alto risco de queda do Náutico e que a relação da torcida não está boa, a Federação Pernambucana de Futebol quer evitar que os fatos que ocorreram na partida Sport x Vasco se repita e solicitou a mudança do palco da partida, saindo dos Aflitos e indo para o Arruda.
A FPF está fazendo seu papel. E está corretíssima. Mas o que lamento é a nossa fuga da ação de vândalos nos estádios de futebol. Vejam bem: o Náutico fez uma reforma que deu mais beleza aos Aflitos e aproximação com o seu torcedor. Mas, agora, na crise, não terá condições de jogar em sua casa por falta de segurança. Parem e pensem… Não esquisito? A sensação que temos é que estamos cada vez mais acuados.
Vamos lembrar o que aconteceu no Sport. O presidente Yuri Romão queria a partida contra o Vasco na Arena de Pernambuco. Mas voltou atrás e agradou a torcida, mantendo o duelo na Ilha do Retiro. Tomou várias providências para que a violência não acontecesse na sede do clube e nem no entorno. E aí, o que acontece? A baderna é dentro do estádio e durante a partida.
A Federação, então, não pensou em ações para que o jogo do Náutico seja realizado na casa dos alvirrubros. É como se não houve o que fazer para evitar algo que já está cada vez mais enraizado no nosso futebol. A busca é para solucionar da forma mais rápida e prática, mas superficial. Pode resolver o problema naquele instante. Mas não coíbe a violência de forma macro.
Eu sou radicalmente a favor de um trabalho em conjunto dos clubes, federações, polícia, Ministério Público e outras instituições que estejam envolvidas com a segurança da sociedade. Um núcleo de trabalho forte, trabalhando unicamente nesse foco de coibir a violência. E esse trabalho passa por um trabalho de conscientização da torcida, na forma de ir e vir ao estádio. Não basta apenas punir. É preciso conscientizar educar. E quem quiser continuar fazendo baderna, que sejam tomadas as devidas providências e punições.
E tudo isso não se faz do dia para noite. É preciso sentar, se reunir, trocar ideias com outras praças que tiveram sucesso no combate a violência e assim colocar em prática um plano de ação estruturada. Se continuar do jeito que tá, colocando a sujeira em baixo do tapete e achando que tudo está resolvido, vamos repetir os fatos. E seguiremos correndo do problema ao invés de encará-lo para resolver.