Foto: Instagram/Romelu Lukaku oficial.
Por Daniel Schvartz
“As pessoas da Fifa não estão nem aí. Eles conversam, mas isso continua. Não quero dizer que não estou preocupado. Estou preocupado e isso me irrita”. Essa foi a opinião dada pelo marfinense Yayá Touré, na última segunda-feira (28), quando falava sobre o racismo no futebol. De fato, uma fala forte. Mas que, para qualquer verdadeiro fã desse esporte, pode ser interpretado como um pedido desesperado de ajuda.
Enraizado na Europa, foram vários os casos ocorridos este ano e que são fáceis de serem lembrados. O belga Romelu Lukaku, por exemplo, sofreu com ofensas da torcida do Cagliari e ainda precisou receber uma carta aberta dos Ultras da Inter de Milão, clube onde joga, defendendo os atos dos torcedores adversários. Na carta, os torcedores da Inter tentaram convencer Lukaku que imitar macacos para jogadores negros era algo cultural no país, com o intuito de tirar a concentração do atleta. A Itália, por sinal, é um dos países com mais casos registrados de ofensas raciais e intimidação. Só na temporada 2017/18 foram contabilizados 129 episódios, sendo 41% de conotação racista. Os números são da Associação Italiana de Jogadores (AIC).
Na última semana, o Barcelona foi enfrentar o Slavia Praga, na República Tcheca, pela Liga dos Campeões. Cada toque de Nelson Semedo, lateral português do Barça, foi suficiente para que sons de macaco fossem entoados no estádio. O episódio foi relatado pelo repórter Marcelo Bechler, correspondente especial do Esporte Interativo, que acompanha o Barcelona nos jogos da competição.

E não podemos nos enganar, achando que o racismo é um “privilégio” europeu. Recentemente, a torcida do Santos foi acusada de insultos racistas e xenófobos a jogadores do Ceará, em partida válida pelo Campeonato Brasileiro. Pouco tempo após lançar o terceiro uniforme na cor preta, em uma campanha contra o racismo. Assim como Marcão, técnico interino do Fluminense, que foi alvo de publicações ofensivas em um perfil de rede social da torcida tricolor. De acordo com a postagem, o treinador só conseguiu o cargo “por base em COTA para negros”. Sim, a palavra “cota” ainda estava em caixa alta, para não restar dúvidas quanto ao ódio proferido.

Dentre os últimos episódios, um que chamou bastante atenção e envolveu até o alto escalão da política de ambos os países foi no jogo Bulgária e Inglaterra, pelas Eliminatórias da Euro. Torcedores búlgaros entoaram cantos racistas e fizeram gestos nazistas durante todo a partida, que precisou ser paralisada duas vezes. Hoje, a UEFA anunciou a punição: um jogo de portões fechados e multa de 65 mil euros. Só para compararmos, o atacante dinamarquês, Nicklas Bendtner, foi multado pela mesma entidade ao mostrar a cueca ao comemorar um gol, também pelas Eliminatórias. A marca de roupas íntimas não era uma patrocinadora oficial da competição. Valor? 80 mil euros e um jogo de suspensão.
O ex-volante do Barcelona e Manchester City está certo. Eu poderia gastar todo o meu espaço de escrita relatando casos de racismo no futebol. As ações feitas pela Fifa, UEFA, CBF e todas as outras entidades do futebol são nulas. Não adiantam. Uma propaganda na TV ou uma faixa na entrada dos times em campo não são suficientes. Podem até alertar ou sensibilizar alguns, mas não educa.
As medidas precisam ser mais enérgicas. Se for necessário punir o clube, que faça. Eles também precisam entrar na luta e retirar esses infiltrados das suas torcidas. Os jogos precisam ser paralisados, como está sendo feito em caso de cantos homofóbicos. Os jogadores também precisam se unir. E não estou falando apenas daqueles que são atingidos. Pelo contrário! Todos precisam dar o exemplo e mostrar que o futebol não tem mais espaço para isso. Se for necessário, deixem o campo. É se colocar no lugar do companheiro. É questão de humanização.