Era 18 de dezembro de 1983. Recife, assim como todo Brasil, respirava o clima de Natal. Santa Cruz e Náutico entraram em campo para decidir o Campeonato Pernambucano daquele ano. Sim, leitores mais jovens, o Estadual era disputado no segundo semestre. E, acreditem, era praticamente todo segundo semestre. Seis meses de jogos. Ufa, cansativo… Era mesmo. Mas também foi um ano com os times da capital fortes, repleto de bons jogadores e com uma final com Arruda cheio. Naquele dia, mais 76 mil torcedores foram ver o Santa Cruz ser campeão sobre o Náutico de forma dramática.
Antes de falar da decisão, é importante lembrar que o Campeonato Pernambucano era disputado com três turnos. Cada um deles, tinham duas fases – a primeira com os jogos de ida, e a segunda, com jogos de volta. Os campeões de cada fase faziam a decisão do turno, e o campeão do turno tinha a vaga garantida na final do Pernambucano. Se um time apenas fosse o campeão das duas fases, era o campeão direto do turno.
Em 1983, o Sport começou como favorito. Pelo bom time que tinha e, embalado, conquistou o primeiro turno. Mas o time rubro-negro arrefeceu e o segundo turno ficou com o Náutico. Sobre o Santa Cruz, pouco se falava. Era um time jovem comandado por um brilhante treinador, Carlos Alberto Silva. O time coral cresceu na reta final do terceiro turno. Como cada turno teve um campeão diferente, foi disputado um triangular para saber quem seria o supercampeão.
O Sport enfrentou Santa Cruz e Náutico, ficando no 0x0 com ambos. Na última partida do triangular, tricolores e alvirrubros ficaram no 1×1, forçando uma extra entre as duas equipes, eliminando o Sport. Como naquela época o Estadual era classificatório para a competição nacional do ano seguinte, o time rubro-negro foi disputar a Taça de Prata, que significava a segunda divisão. Já o Tricolor e o Alvirrubro foram para a Taça de Ouro.
Na grande decisão, uma partida nervosa, bem disputada a cada segundo. E equilíbrio. O Náutico tinha uma forte equipe, treinada por Ernesto Guedes, mas o jovem time do Santa Cruz ganhou confiança por ter conquistado o terceiro turno. O Tricolor abriu o placar, através do atacante Gabriel. E o Náutico só conseguiu o empate aos 42 minutos do segundo tempo, com Mirandinha. A partida foi para a prorrogação. Empate mantido. Aí, veio a adrenalina dos pênaltis. Depois de uma sequência de cobranças, o atacante do Náutico, Porto, bateu e o goleiro Luiz Neto segurou em cima da linha. Aí, o zagueiro Gomes foi para cobrança, bateu sem chances para Cantarelli e deu o título ao Santa Cruz.
Deu uma vontade danada de escrever sobre essa partida ao saber que o Santa Cruz segue sem poder receber o torcedor para os jogos do Campeonato Pernambucano 2022. E, nesta quarta-feira, teremos mais um Clássico das Emoções para história, mas sem torcida. Pelo simples fato do Arruda não oferecer condições de receber torcedor. Uma tristeza ver estádio vazio. A mente foi num passado distante para relembrar o Arruda lotado. Poderia ir para outros anos, 1993, 2001, 2004… Mas a final relatada foi marcante para aquele garoto de 9 anos, que jamais imaginaria ser cronista esportivo nos dias de hoje.
Ficha técnica do jogo
Santa Cruz: Luís Neto, Ricardo, Gomes, Edson Furquim e Almeida; Zé do Carmo (Marco Antônio), Henágio e Peu; Gabriel, Ivan (Django) e Ângelo.
Técnico: Carlos Alberto Silva
Náutico: Cantarelli, Zé Carlos, Edson Gaúcho (Sávio), Zé Eduardo e Albéris; Ivan, Alex (Heider) e Baiano; Porto, Mirandinha e Ademir Lobo.
Técnico: Ernesto Guedes