Por Maria Eduarda Santos
O empresário Alexandre Mirinda teve destaque como jogador de futsal, atuando em clubes como o Santa Cruz e Náutico. No tricolor pernambucano, foi técnico da modalidade, onde conquistou um campeonato. Lá, Mirinda também atuou como diretor e treinador. Mas ele ganhou mais notoriedade quando se tornou dirigente do futebol profissional do Santa Cruz. Em 1993, era o presidente quando o Tricolor conquistou o título estadual que nenhum torcedor coral é capaz de esquecer. Agora, ele tem outra pretensão. No dia 30 de março, o empresário lançou sua candidatura à presidência da Federação Pernambucana de Futebol. A sua missão, nesse momento, é desbancar o atual mandatário da FPF, Evandro Carvalho, que quer a reeleição. Aliás, essa é uma das propostas de Mirinda: quem comandar a entidade ter direito apenas a dois mandatos consecutivos. Confere agora a entrevista.
MEC – Por que você quer ser presidente da Federação Pernambucana de Futebol?
Mirinda – Isso não é um projeto pessoal. Eu fui procurado por dirigentes do Náutico, Santa Cruz, Sport e de outros clubes que fazem o futebol pernambucano. Todos, colocando sua insatisfação com o momento atual e a falta de apoio de representatividade da nossa Federação. Sentou-se à mesa, mais de seis pessoas, onde foi discutindo a possibilidade de mudança no comando da Federação. Dentre essas conversas, o nome que surgiu e que transitava melhor em todos os clubes, foi o meu. Seria gratificante, um orgulho muito grande encerrar minha carreira como presidente da Federação Pernambucana, acho que qualquer pessoa se sentiria honrado, caso possa comandar os destinos da paixão do brasileiro, que é o futebol. Eu topei. A partir daí, tive que começar a buscar apoio e voto no colégio eleitoral.
MEC – Qual a sua proposta de inovação?
Mirinda – Um dos meus primeiros projetos é convocar a assembleia geral para que o presidente tenha, no máximo, uma reeleição. O Presidente que está, está por 16 anos. A reeleição é apenas um passo. Outro ponto importante e que está deixando a desejar é a segurança. Pretendo criar a diretoria de segurança, contra os vândalos infiltrados nas torcidas organizadas, com profissionais capacitados. Não que a Federação e eu iremos resolver o problema, mas iremos combater. Eu trago várias ideias. Procurei ouvir muito, eu andei Pernambuco todo. Tive a preocupação de juntar um grupo de desportistas ao meu lado, que estão conosco, planejando, estudando e buscando caminhos que possam fortalecer. É importante entender que as ideias têm que ser efetivamente recicladas. Se você puder contribuir com qualquer segmento que você tenha passado essa experiência é ótimo, mas não se perpetuar no poder.
MEC – O que está ruim e precisa melhorar na Federação Pernambucana de Futebol?
Mirinda – Tudo. Não tem uma diretoria por todo Pernambuco, não há diretoria de segurança, de captação de recurso para fortalecimento dos clubes. Não tem treinamento para profissionais que queiram se tornar árbitros, o que pode baratear o deslocamento de arbitragem, que é muito cara. Tem que mudar tudo, a começar pelo presidente.
MEC – Como a Federação deve trabalhar para que o futebol pernambucano volte a ter o prestígio nacional que tinha antes?
Mirinda – Quando você passa a ter clubes fortes, que revelam jogadores, que disputam competições de Série A e B, do Brasileirão, você vai ser respeitado. Isso acontece com muito trabalho e competência. Fortalecendo nossos clubes e a meritocracia deles vai fazer com que nosso futebol volte a ser respeitado.
MEC – Como a Federação pretende trabalhar em parceria com os clubes pernambucanos, principalmente os do interior?
Mirinda – Vamos fazer uma interiorização dos poderes na Federação. Vamos nomear um diretor de federação para o Sertão, para o Agreste, para a Mata Norte, Mata Sul e para a Região Metropolitana. Até porque, a Federação tem vários clubes, mas o foco fica apenas, única e exclusiva para a primeira divisão. Vamos dar poderes a diretores com orçamento próprio, para poder fortalecer todas as ligas e clubes. Dessa forma, fica um diálogo muito mais fácil, as ideias surgem e as resoluções dos problemas ainda mais.
MEC – Quais os projetos para as competições pernambucanas?
Mirinda – Procurar dar o maior tempo para que os clubes tenham sempre atividades. Temos que ter criatividade para ter competições ao longo do ano. Assim você fortalece os clubes. Além disso, as competições de Pernambuco não distribuem nada de premiação, a não ser a medalha e o troféu que vai para a galeria. Bastou eu colocar no meu programa que a partir de janeiro de 2023 as competições organizadas pela federação haverá também a premiação em espécie, para que aja o reconhecimento de investimento que o clube fez.
MEC – Qual o planejamento para as divisões de base?
Mirinda – Fortalecer todas as ligas e clubes é um passo importante para que nosso futebol volte a revelar talentos. Faz muito tempo que não se fortalece as divisões de base. Precisamos ter jogadores que saiam de vários recantos de Pernambuco e até de estados vizinhos. Era assim que Pernambuco era forte. Nosso projeto é retomar as preliminares, porque o torcedor vai poder acompanhar o que chamo de diamantes brutos, que eles vão para os clubes de ponta para serem lapidados e eles já vão começar a lidar com pressão de torcida, mostrar sua qualidade, porque nem isso se acompanha mais. E esses garotos, às vezes, desaparecem do próprio clube e quando se vê, ele estoura no sul ou sudeste, até fora país. Tendo as preliminares, onde eles possam mostrar para toda a equipe, do profissional até ao torcedor, você vai ter um acompanhamento melhor. Vamos buscar um calendário que as equipes não joguem apenas durante 60 dias. Será que um clube vai manter um sub-20 para jogar apenas dois meses? É preciso ter competições para que o sub-20, sub-17, tenha, no mínimo, um calendário de oito meses. Não só para categorias que já revelam jogadores direto para o profissional. Vemos jogadores, com 17 anos, jogando pelos clubes da Série A do Campeonato Brasileiro. Aqui, em Pernambuco, os clubes de ponta vão buscar jogadores em fim de carreira, enquanto a revelação fica abandonada por falta de projeto, não só do próprio clube, mas muito mais por conta da federação, que não organiza um calendário.
MEC – Os estádios estão deixando a desejar bastante. O que a Federação pode fazer para dar suporte aos clubes em relação a isso?
Mirinda – A Federação pode captar recursos a nível federal, estadual e municipal. Dialogar com os prefeitos, mostrar que o futebol é a maior inclusão social que existe, que faz com que garotos possam mudar de vida, da família e da comunidade. É algo que precisa chegar para o município, principalmente para o gestor daquele local.
MEC – O que o futebol feminino tem a evoluir, em Pernambuco?
Mirinda – Precisa ser fortalecido. Em uma competição que há apenas seis equipes mostra que os clubes não estão preparados para entenderem que o futebol feminino é importante, que é uma realidade. Se você coloca uma competição que há uma premiação, haverá o incentivo. Mas a realidade é que fazem competições femininas apenas para dizer que fizeram. Não é por aí. Tem que fazer, mostrando que é tão importante quanto a masculino.
Obs: Entramos em contato com a assessoria do presidente da FPF, Evandro Carvalho, para fazer a mesma entrevista, mas informaram que ele ainda não deseja falar sobre eleição no momento.