Em entrevista coletiva concedida à imprensa, antes da partida contra o Paraguai, na noite desta terça-feira, o técnico da seleção brasileira, Dorival Júnior, prometeu: “Estaremos na final da Copa do Mundo. Me cobrem”. Se não for para sofrer fiasco como em 1998, quando sofreu um passeio da França, tá valendo. Mas o pior é fazer promessa com o material que tem e com o futebol que anda apresentando.
Não escondo minha chatice. Muito menos velhice e minha boa dose amargura… Mas a atual geração do futebol brasileira é chata demais. É lamentável. Jogadores que jogam nos seus clubes e olham a seleção como apenas vitrine, trampolim. Poucos tem a “carcaça” para defender as cores canarinhas. Não escrevo olhando para o passado, comparando gerações. Eu ouvia isso do meu pai, falando que a seleção de 82 nem de longe chegava aos pés a de 70. Ficava com inveja, mas hoje sei que não é possível tal comparação. Tempos diferentes.
Hoje, esse hiato de tempo proporciona uma mudança ainda maior no esporte. E, infelizmente, no comportamento dos atletas. Boa parte dos jogadores convocados pelos treinadores estão muito cedo jogando na Europa. Não há identificação com a torcida, não sofrem o peso da cobrança. Jogam e vão embora para os seus clubes e nem aí. Culpa da CBF, de Dorival, da imprensa, da torcida…? De jeito algum. Não há culpados nesse caso. Isso é questão de mercado. A geopolítica do futebol proporciona a saída muito cedo de grandes jogadores.
Para mim, o problema maior é de mentalização. De soberba. Quem faz o futebol brasileiro, ao longo do tempo, assimilou a ideia de que somos os maiores e que somos imbatíveis…. Nem o 7×1, em 2014, nos fez descer do pedestal e cair na realidade. O fato dos clubes europeus ainda buscarem talentos no Brasil não significa necessariamente que temos o melhor futebol do planeta. Temos o DNA de um bom futebol. A malemolência, a malandragem, o talento. Mas quando vamos para a pratica, o buraco é mais embaixo.
A organização do futebol, a estrutura da maioria dos clubes da América do Sul está bem abaixo do que é praticado na Europa. E o hiato é maior a cada ano. Não nos damos conta porque nos acomodamos. Aceitamos a nossa crise como uma realidade que não se pode mudar. O que herdamos de fora é coisa parca. A entrada do time em campos, por exemplo. Tão chato quanto “Então é Natal”, da Simone. E o VAR, que nem posso colocar na categoria herança, mas numa nova ordem do futebol mundial. De uma forma ou de outra, a tecnologia se tornou, no Brasil, um pilar para trapalhadas.
O futebol brasileiro está perdido. O caso é sério. E parece que ninguém se dar conta. Dorival Júnior garantir que vai a final da Copa do Mundo dá a noção de tudo isso. Ele esquece de como foi que a CBF chegou até seu nome para assumir a seleção. Acho que deletou da mente da palhaçada Carlo Ancelotti, a piada que foi colocar Ramon Menezes como interino e a frustrante passagem de Fernando Diniz no cargo. É incrível que não juntem as peças dos fatos e cheguem a uma solução. Burrice ou falta de vontade?
Dorival Junior parece um personagem do filme MIB – Homens de Preto, que foi vítima daquela caneta luminosa que apaga tudo da memória e faz a gente começar a vida do zero. Mas não é só ele. Dorival é mais um. É triste. Seria melhor ficar calado. E trabalhar.