Sem firulas, vou ser franco: nunca fui fã de Neymar. É sério! Quem me conhece sabe que é verdade. Reconheço seu talento. É um craque. Está muito, mas muito à frente dos jogadores brasileiros da sua geração (e de uma porção que já deixaram os gramados. E de outra porção que ainda atua pelo mundo). Mas essa sua qualidade técnica, ao meu ver, era apagada pelo seu comportamento em diversas situações. A fama de “cai-cai” que ganhou na Copa do Mundo 2018, por exemplo. Para mim, não era fama. Ele era sua realidade. Sempre foi. Aproveitava do fato de ser o queridinho de todos para ter vantagens nos jogos. Rápido e habilidoso, é alvo fácil dos marcadores. Valorizando a queda no gramado e nos gritos de dor, qual árbitro não assinalaria a falta? E quem é maluco de passar a vida sendo julgado pela torcida e a imprensa?
Mas, enfim, o Brasil sempre necessitou de ídolos. E Neymar assumiu esse papel pelo talento que tem. Um talento raro. Não dividiu com ninguém esse holofote. Não por culpa dele. Nenhum jogador brasileiro chega perto da sua qualidade técnica. Isso dá benefícios de sobra. Mas tem os seus malefícios. Tudo recai nas suas costas de forma potencializada. E o ser humano precisa ter uma faceta de robô para suportar essa avalanche. Neymar, por exemplo, nunca teve perfil para ser capitão. Nunca teve equilíbrio emocional para tal status. Por outro lado, soube segurar a tentação das propostas do futebol estrangeiro por muito tempo. Só deixou o Santos na hora certa. Por isso, é, dos jogadores da seleção, o que mais tem identificação com o torcedor brasileiro.
Aos 27 anos, Neymar agora está numa situação tão delicada que compromete a concentração de qualquer atleta. Não quero nesse texto julgar se ele está certo ou errado. Se ele foi ou não vítima de uma cilada. O que me impressiona é que o lado humano de um ídolo é colocado de lado. Ninguém preserva ninguém. Quanto mais exposição, melhor. Ontem, enquanto saia de campo, durante a partida contra a seleção do Catar, chovia no meu celular um vídeo que supostamente seria do atacante em momento íntimo e começando uma discussão. Horas depois, surge a confirmação do seu corte da seleção que vai disputar a Copa América.
Desgaste a mais e desnecessário, já que o jogador estava sem a menor cabeça para a disputa da competição, muito menos o amistoso. A CBF deveria poupá-lo. Seria até bom para Tite testar novas formações e outro atleta que merecia uma chance de mostrar o seu valor. Afinal de contas, Neymar não precisa mostrar que é craque. Mas é tanta gente e empresas envolvidas em suas convocações, que poupar o menino num desses jogos seria um sacrilégio. Talvez até ele Neymar estivesse querendo jogar para mostrar sua força, que não tem nada a dever para ninguém. Mas se pensou assim, já é tirar o foco da partida. Atleta escalado numa partida qualquer tem que pensar exclusivamente no que está fazendo dentro de campo. Imagina quando se veste a camisa da seleção brasileira. Neymar encarou e se deu mal.
O caso Neymar já ultrapassou a esfera esportiva há muito tempo. Um tsunami que causou até a queda do jornalista Mauro Naves, que foi afastado da cobertura esportiva da Rede Globo por ter cedido o telefone dos advogados da mulher que acusa o jogador de estupro. Juro que não estava dando trela ao assunto por achar ser mais factoide. Mas, independente de qualquer julgamento, a acusação está se estendendo demais e, sem dúvida, mexeu com o emocional e a cabeça do atleta. A exposição de um ídolo tem seu preço. Para o bem e para o mal. Pena que, agora, Neymar esteja vivendo uma turbulência tão intensa justamente quando precisa se reerguer após o fracasso no Mundial 2018.