Fotos: Ricardo Fernandes/Spia Photo
Quando vi a seleção brasileira usando o uniforme branco, o passado veio à tona. Sim, 1950 esteve na mente. Como também surgiu a lembrança de 1989, quando o Brasil sediou a Copa América pela última vez. Naquele ano, a seleção, comandada por Sebastião Lazaroni era duramente criticada. Na estreia, em Salvador, muitas vaias, especialmente porque o torcedor baianos não aceitavam os cortes de Bobô e Charles, então estrelas do Bahia. Tite estreou na competição sem essa dura pressão. Mas precisava mostrar serviço contra a Bolívia. O placar final afrouxou o nó da gravata: 3×0 para o Brasil. Mas ainda falta algo mais para comprovar evolução.
Se toda estreia tem, naturalmente, tons de tensão. Esse começo de jornada da seleção brasileira na Copa América tem uma pressão enorme, pois o Brasil precisa vencer e convencer. Até para os questionamentos sobre o trabalho de Tite arrefecerem. Talvez essa pressão psicológica tenha atrapalhado a equipe brasileira no primeiro tempo. Soma-se a isso, a retranca armada pelos bolivianos. E também outro detalhe importante: a ausência de Neymar.
O Brasil vai ter que se adaptar a jogar sem o seu principalmente jogador. Tem o seu lado positivo: tira os jogadores da zona de conforto de ter que contar com a estrela do PSG para resolver a parada. E também dá dinamismo ao setor ofensivo. Mas para isso acontecer vai ser preciso mais de tempo. Mesmo diante de um adversário que errou muito (mas muito mesmo) na troca de passe para o ataque, o Brasil mostrou um futebol engessado, burocrático no primeiro tempo. Foi aquele futebol de supremacia brasileira, mas sem encher as vistas. Tanto que as vaias ecoaram no Morumbi.
No segundo tempo, logo aos 4 minutos, o VAR em ação. Para o jogo. O árbitro foi chamado para ver o vídeo. Sinceramente, por mais que esse equipamento seja importante para o futebol, o processo é muito chato. Mas que foi pênalti, foi. Richarlyson tentou levantar na área e Jusino meteu o braço. O lance foi claro, mas o árbitro estava encoberto no lance. Por isso, a utilização do VAR. O gol fez o Brasil respirar. Deu leveza ao time. Tanto que Firmino passou a ter mais mobilidade e o entendimento com Coutinho foi à tona. Coutinho passou para Firmino, que cruzou para Coutinho cair no espaço vazio e cabecear firme: 2×0.
“Torneira aberta” e o Brasil deslanchou de vez. A Bolívia, perdendo o jogo, precisou ser mais ofensiva. E quem disse que a seleção boliviana tem peças para ser ofensiva? A saída de jogo foi algo bisonho. Nenhuma troca de passe com lucidez. O ex-rubro-negro Chumacero era o mais voluntarioso. Mas muito pouco para que o atacante Marcelo Moreno pegasse uma bola redondinha para um arremate.
Aliás, o goleiro brasileiro só fez uma defesa aos 42 minutos do segundo tempo. Já Tite se sentiu a vontade para fazer mexidas na equipe de forma ousada. Deu chance para Everton Cebolinha entrar e fazer um belo gol. Pegou a bola pela esquerda, foi cortando pela diagonal e encontrou um espaço para surpreender o goleiro adversário e fazer um golaço.
Foi uma vitória para tirar o peso da estreia e garantir aquela velha confiança para a seleção brasileira nesse início de jornada da Copa América. E uma renda estrondosa: R$ 22,4 milhões. Próximo passo: Venezuela, terça-feira, em Salvador.