Foto: Anderson Stevenson/@sportrecife
De longe, a imagem da torcida do Sport invadindo o gramado da Ilha do Retiro, logo após a vitória sobre a Ponte Preta, que garantiu o acesso à Série A, foi algo que saltou os olhos. O colorido no gramado, a energia de uma festa, o ídolo em meio ao povo… A cena já havia acontecido em outra situação: o acesso do Náutico à Série B. Os alvirrubros invadiram o gramado depois da vitória nos pênaltis contra o Paysandu. Fatos que me remetem à infância. Era muito comum os jogos decisivos terminarem assim. Hoje, não cabe mais. Infelizmente.
O que me faz escrever sobre o assunto é um dos vídeos que recebi. Nele, o lateral direito Norberto tem toda sua roupa arrancada por vorazes torcedores do Sport. O atleta fica apenas de sunga e chuteira. Comentei no meu instagram que a cena era fruto da empolgação dos torcedores. Mas, na realidade, era pura agressão. Norberto foi obrigado a tirar a roupa. Ele não estava na vibe de entregar o uniforme. Mas a torcida arrancou. No meu inconsciente, que remete sempre ao universo do futebol em que tudo era festa, a cena mostrava paixão. Hoje, a visão é outra. O ato foi violento.
Nos Aflitos, o torcedor encontrou facilidades de entrar no gramado devido a nova estrutura do estádio. E não encontrou resistência de quem fazia a segurança. Os alvirrubros invadiram quando o árbitro Leandro Vuaden e os jogadores do Paysandu ainda estavam em campo. Na Ilha do Retiro, o portão foi aberto. Moleza total. Até hoje recebo imagens de tumulto. Vi outro deles: uma garota caindo num fosso, assim que pulou o alambrado. É uma momento de festa, belo visualmente. Mas a impressão que se tem é que tudo é livre. Pois quem trabalha com segurança, não terá condições de conter uma multidão que sente a vontade a fazer tudo que sentir vontade.
Das duas uma: ou libera o torcedor para festejar no gramado, mas sem atletas e com um controle maior da segurança do estádio. Ou então, não libera. Para mim, mesmo gostando demais do contato do torcedor com os atletas, gostando também do clima de festa criado, eu prefiro a segurança. Até porque, infelizmente, muitos que vão ao estádio, não vão apenas com o propósito de torcer. Quem a balbúrdia. E a abertura dos portões é dizer sim à balbúrdia.
Lembro que, na final do Campeonato Pernambucano de 1987, o então presidente do Santa Cruz, José Neves, entrou no gramado da Ilha do Retiro para comemorar a conquista do bicampeonato e fincou uma imensa bandeira do Santa Cruz no gramado da Ilha. O que aconteceria se essa cena se repetisse? Os tempos são outros. A violência, a intolerância ganharam mais espaço, infelizmente. E o que os clubes precisam fazer em qualquer hora do jogo é cuidar da segurança dos torcedores, que na visão comercial, são os seus clientes. Além do mais, o que acontecer ali, naquele instante do pós jogo, também é de sua responsabilidade.