Foto: assessoria do Santa Cruz
Não é fácil colocar um ponto final na carreira de atleta do futebol. É uma decisão doida para quem ama o ofício.
Há os que simplesmente desapegam. O caso do meu saudoso amigo Laxixa. Na década de 60, atuava pelo Sport. Estava se destacando quando encheu o saco das conversas de dirigentes e pendurou a chuteira ainda jovem.
Na década de 80, o Sport tinha um zagueiro chamado Cláudio. Tive a oportunidade de entrevistá-lo no final dos anos 90, quando já havia encerrado a carreira. E ele me explicou que a decisão não foi difícil: “Só aparecia clubes em crise, sem pagar salário…. Eu disse: quer saber? Adeus!”.
Há outros que enfrentam a depressão. Mirandinha, ex-Sport e Corinthians, viveu isso. Quando viu que suas pernas não atendiam mais o comando do cérebro, entregou-se ao álcool. Quase morre de tanta birita.
Sangaletti, ex-Sport e Náutico, me falou uma vez que tinha um projeto para escrever um livro sobre essa transição. Não sei como anda. Espero que ele tenha avançado, pois trata-se de um momento difícil. Principalmente para quem viveu dias de glória.
Nessa semana, o futebol pernambucano viu dois ídolos pendurarem a chuteira. O zagueiro Durval e o goleiro Tiago Cardoso. Ambos representaram uma era de conquistas nos clubes que defenderam. Durval foi penta campeão pelo Sport, levantou a taça da Copa do Brasil, disputou uma Libertadores pelo Leão.
Quem não lembra do gol de falta marcado por ele na partida contra o Internacional-RS, pela Copa do Brasil, que garantiu a vaga na semifinal da competição. Num momento crucial do jogo, ele pegou a bola e disse: deixa comigo! Quem teria essa moral? Só ele! Durval. Cara sério, concentração 1000% e senso de antecipação de jogada incrível. Quando o Leão tava no aperreio, ele ia lá e resolvia.
Tiago Cardoso chegou no Arruda quando o Santa Cruz nem série para disputar tinha no Campeonato Brasileiro. O Tricolor vinha de uma sequência de goleiros irregulares e Tiago chegou caladinho, sem ser conhecido pela torcida. No primeiro jogo treino, um frangaço. Xiii?!?! Seria mais um a decepcionar? Que nada. A primeira impressão não é a que fica. Tiago superou qualquer desconfiança com profissionalismo, seriedade e dedicação.
Nas três finais do Campeonato Pernambucano de 2011, 2012 e 2013, Tiago fez defesas milagrosas. Numa dessas decisões, chegou a estar machucado durante a partida. Mas superou tudo com vontade e determinação. Merece todo respeito pela sua história. O presidente do Santa Cruz, Constantino Júnior, disse que Tiago foi o melhor goleiro do Tricolor. Pode não ser o melhor (Birigui era excepcional), mas em dúvida foi o maior.
Durval e Tiago Cardoso tentaram regressar aos times que amam. Queriam estender mais suas histórias. Porém, não foi possível. O corpo não permitiu. Deve ter doido para eles não continuar. Mas a consciência do dever cumprido é muito saudável para a vida. Tiago recebeu convite para ter alguma função no Santa Cruz. Durval… não sei o que ele fará daqui para frente. Torço para o sucesso de ambos! Eles merecem.