Comecei a gostar de futebol nos anos 80. Bem no comecinho da década mesmo. Precisamente em 1982. Sim, já tô bem velhinho para ficar antenado ao futebol com a fluidez dos jovens de hoje, mas ainda dá para mexer em algumas redes sociais. Mas não sou tão antigo assim para dizer que o passado é melhor do que o presente. Cada tempo tem o seu tempo. E tá tudo certo.
Porém, uma coisa eu acho melhor antigamente do que hoje: a ida do torcedor ao estádio. Claro que, na época, eu não tinha a noção do quanto tudo era mágico. Torcidas distintas caminhando na mesma calçada, pegando o mesmo ônibus, a mesma carona, chegando ao mesmo estádio. Na arquibancada, elas estavam misturadas. Em alguns casos, em jogos decisivos, a polícia fazia a separação. Poucos agentes, só para garantir a tranquilidade. Tinha confusão? Sim, tinha. Era tão raro que quando acontecia não
Vi isso de perto. Como vi também a importância das torcidas organizadas naqueles jogos. Levavam o papel picado, as bandeiras, as camisas especiais, coloridas… tinha algo que era visualmente bonito, mas que incomodava para danar: a fumaça com as cores do clube. Era uma desgraceira. As organizadas tinha um sentido: fazer do futebol uma festa.
Mas o passar dos tempos desvirtuou tudo. Organizadas virou negócio. E virou também sinônimo de baderna e de crime. Ao longo dos anos foram inúmeros dos episódios que tornaram a ida ao estádio algo medonho, que assusta a até mesmo os que circulam na cidade e não tem o futebol como propósito de diversão.
O futebol se tornou praça de encontro de marginais. Facilitamos a sua ida para os estádios e não tomamos conta do nosso patrimônio: o verdadeiro torcedor. Assim, a família, o cidadão de bem, que quer apenas se divertir, passou a não querer ir aos jogos. Enquanto que os que estão sempre a fim de briga, tomaram conta. Encontraram a facilidade de extrapolar sua ira num campo que era só de alegria.
A sociedade esportiva assistiu a tudo. Medidas paliativas foram tomadas. Radicais também. E nada. Agora, vem mais uma: o fim das torcidas organizadas. Em resumo, isso é mais do mesmo. É jogar a poeira embaixo do tapete. Como não se tem um programa sistêmico para controlar, punir e educar, então a saída é simplificar, radicalizar o que não traz, na prática, o resultado que precisamos.
Digo isso porque essa determinação já aconteceu em outras situações. O que aconteceu? Nada. Também proibiram o consumo de bebida. E nada mudou. Decretar o fim das organizadas juridicamente não impede os marginais de agirem. Até porque a bronca maior é na rua, fora das arquibancadas. O que é preciso é de ações e decisões que mudem o comportamento dos agentes. Pode não ser fácil, mas é simples.