Por Yuri Ribeiro*
Esse título poderia se referir única e exclusivamente sobre a falta de qualidade técnica de Palmeiras e Santos, na disputa pelo título de Libertadores. Mas esse troféu já estava pronto antes do jogo, ao anunciarem que o estádio teria cerca de 5 mil torcedores assistindo ao jogo.
Eu me perguntei muito se queria falar sobre, diante tantos questionamentos para mim mesmo se estou sendo paranoico demais com essa pandemia. Aí eu lembro que o Brasil continua contabilizando milhares de mortes por dia e volto a não me achar um radical sobre.
No auge da pandemia, quando se discutia a volta do futebol, eu já achava o maior absurdo do mundo. Porque, diante de tantos setores essenciais, achei que o futebol deveria estar no fim da fila, como entretenimento.
Mas aí percebi que o entretenimento é só para quem assiste e não para quem trabalha, e comecei a ceder na linha de raciocínio. Cedi à volta do futebol, considerando isso. E comecei a acompanhar e torcer.
Mas quando envolve torcida no estádio, envolve aglomeração somada a fatores como, por exemplo, paixão. E com paixão, amigo, a razão vai pro beleleu. Não tem pandemia e riscos de contaminação por um vírus fatal que controlem as pessoas.
E aí, voltemos à final da Libertadores. Os organizadores cederam 300 convidados por clube. De repente – não sei se perdi algo – tinham liberado 5 mil ingressos para a partida. CINCO MIL PESSOAS concentradas no mesmo lugar. Com paixão.
Depois de ter cedido pra volta do futebol, tentei relativizar pensando que poderiam organizar direitinho – afinal o Maracanã é gigante e se distribuíssem, seria ok. Mas não, amigos. Os caras concentram todo mundo NUM ÚNICO setor do estádio. Todos aglomerados, contrariando tudo o que se pede para esse momento crítico.
Nas poucas vezes que a TV focou na torcida, já que ficaram no mesmo lado das câmeras principais da transmissão, várias pessoas com a máscara no queixo – uma nova tendência dos brasileiros que fingem que se importam, já que os que não se importam, nem usam mais – gritando a pleno pulmões, cuspindo cada gota que ainda conseguem.
Não preciso nem falar que ao final do jogo teve jogador indo pra mureta concentrar torcedores que, no auge da emoção, se aglomeravam como tempos normais (que saudade, diga-se) e gritavam e cuspiam e, provavelmente, contaminavam.
Eu nem comentei que essas 5 mil pessoas eram público VIP porque, provavelmente, isso é deduzível. Não existe exceção para o torcedor pobre. Esse tem que se contentar com sua aglomeração no ônibus lotado. Se quiser que puxe seu grito de torcida lá.
Perdemos e continuaremos perdendo feio enquanto acharmos que está tudo certo concentrar milhares de pessoas no mesmo lugar pra ver um jogo de futebol. Não dá. Infelizmente, por mais que a saudade seja grande, não dá.
A vida é mais importante.
Sim, o Palmeiras foi o campeão com um gol bambo nos acréscimos. Mas isso vocês já sabem. Como sabem que o vírus mata.
*Yuri Ribeiro é publicitário
*Crédito da foto: Folha UOL