Jean Carlos está no Náutico desde 2019. Durante esse tempo, cresceu em campo, se transformou no principal jogador do clube. Por merecimento. Porque é um cara que se mostra tranquilo, focado no seu trabalho. Criou identidade com a torcida, conquistou títulos. É ídolo. Mas, agora, como se não bastasse a má fase em campo (algo natural, especialmente porque o time não rende e depende dele para vencer os adversários). Como se não bastasse, esteve num dos julgamentos mais comentados dos últimos anos. Jean Carlos foi expulso na final do Campeonato Pernambucano 2022, ao acertar uma cotovelada num jogador do Retrô. Ao receber o vermelho, partiu para cima de Deborah Cecília. Repercussão gigante. Com direito a cobertura total da imprensa. Jean Carlos foi punido por 10 jogos, pela agressão e por indisciplina.
Mas o que mais se temia não aconteceu. Jean Carlos foi acusado por tentativa de agressão a árbitra, o que poderia render uma pena de 90 dias de suspensão, o tirando três meses da Série B do Campeonato Brasileira. A acusação foi desqualificada porque ninguém é punido por um fato que não aconteceu. Não como julgar tentativa, saber o que há na mente de um jogador de futebol num momento como aquele. Isso só me faz lembrar o filme Minority Report – A nova lei, de Steven Spilberg, estrelado por Tom Cruise. Na tal nova lei, o criminoso era preso antes do ato através de uma leitura da mente. E quem salvou a sua pele foi justamente a árbitra Deborah Cecília.
A cena é bem clara. Confiram aí:
Quando chegou a conclusão de que o lance caberia o cartão vermelho, Deborah tomou todo cuidado de se afastar de Jean Carlos. Partida decisiva, onde todos do Náutico esperam sempre o algo a mais de quem pode dar o algo mais. E Jean Carlos sabia disso. Queria jogar, queria vencer. Então, era esperado o “estouro”. Deborah saiu de perto, mostrou o vermelho e ele foi para cima. A árbitra jogou os braços no peito de Jean Carlos para se defender. Não dá para afirmar que ele a agrediria. Mas haveria o choque. A trombada. E se ela perde o equilíbrio e cai? Haveria o fato. A história do julgamento ontem seria bem diferente. Ainda bem que, além do empurrão de Débora, demais jogadores e arbitragem chegaram junto para conter Jean Carlos em momento desequilíbrio emocional.
Enfim, Jean Carlos foi julgado pelo o que fez e o que não fez na mesma hora em que a confusão aconteceu. As redes sociais metralharam de xingamentos. O TJD-PE julgou pelos fatos. Punição teria que acontecer. E uma reflexão: até quando os jogadores serão disciplinados a aceitarem a decisão da arbitragem?