Aos 40 anos, Sebastião Rufino Filho estava feliz com o ofício de árbitro de futebol, que um dia escolheu ser por obra do acaso. Não, não pensem que ele sofreu pressão para abraçar a arbitragem por causa do pai, o lendário Sebastião Rufino. Tudo foi obra do acaso. Mas o começo dessa história eu explico mais pra frente. O texto, na verdade, tem como foco o outro extremo da sua carreira. Rufino, de forma surpreendente, pôs fim a sua carreira de árbitro. Nos seus planos, apitaria facilmente mais três ou quatro temporadas. No entanto, resolveu abreviar sua história e “pendurou o apito”. E abriu um novo ciclo: comentarista de arbitragem do Blog Marcelo Esporte Clube. Sebastião Rufino vai ser colaborador da seção Homem de Preto, que vai comentar alguns jogos dos clubes pernambucanos nesta temporada.
No dia seis de fevereiro de 2019, Rufino não teve uma atuação feliz na partida em que o Náutico venceu o Vitória, por 2×0, nos Aflitos. O Timbu fez os gols em cobrança de pênalti em que o árbitro acabou sendo protagonista dos dois lances. No primeiro, a falta foi fora da área. Mas ele confirmo o pênalti. No segundo, foi dentro da área. E ele marcou fora. Rufino safou-se de mais críticas pelo assistente, que avisou da penalidade e ele corrigiu.
Ao sair da partida, já imaginaria sua suspensão. Até aí, tudo bem. Rufino já estava habituado à geladeira imposta pela comissão de arbitragem em casos assim. O que ele não esperava era o desprezo. Segundo ele, outros árbitros que cometeram erros assim como o dele (ou até mais grave) foram suspensos, mas retornaram aos jogos do Estadual de forma muito natural. Mas com ele, não foi assim.
“Desde essa punição, fui praticamente esquecido. Ninguém veio até a mim conversar sobre a “geladeira”, sobre o meu erro, sobre a volta aos jogos. Nada. Silêncio total. Nunca fui de criar confusão, sempre acatei as orientações e as punições. Mas, agora, parecia que eu estava sendo enterrado vivo. Então, pensei: ‘quer saber, vou parar agora’. Sai dos grupos do whatsapp da comissão de arbitragem. E apenas os amigos mais próximos procurara saber, no outro dia, qual motivo da minha saída. Ninguém da comissão me procurou oficialmente para conversar”, disse.
Sebastião Rufino Filho tinha 17 anos de arbitragem. Nesse período, havia sido eleito duas vezes o melhor árbitro do Campeonato Pernambucano. Estava feliz com a sua história. “Eu não queria ficar apitando até o último ano de arbitragem. Queria aturar mais uns dois ou três anos e parar. Esse era mue plano. Mas ficar num ambiente sem valorização e diálogo, não dava pra mim. Fiquei aguardando uma oportunidade para voltar e nada aconteceu”, lamenta.
O curioso é que a paixão por arbitragem também começou de forma inesperada na vida de Sebastião Rufino Filho. Sempre foi ligado a futebol. Acompanha os jogos e também batia bola com os amigos. Atuava como zagueiro. Até que um dia, num torneio de futebol, no Sítio Pindoba, o árbitro não foi e perguntaram se eu não queria apitar os jogos do campeonato. “Como meu pai foi árbitro e já havia sido prefeito da cidade, as pessoas achavam que eu seria respeitado pelos jogadores. Eu havia dito que tinha ido para jogar o torneio. Mas resolvi aceitar o desafio. E não é que gostei?!”, relembra.
A partir dali, Rufino passou a dar mais atenção ao trabalho dentro dos jogos e tomou gosto. Em pouco tempo, decidiu fazer o curso de árbitro. Sem que seu pai soubesse. “Ele só veio saber depois que fiz a inscrição”, conta. Rufino Filho lembra que também foi surpreendido pelo pai. “Quando eu estava apitando os jogos infantis, ele foi a uma partida escondido, para saber se eu levava jeito para arbitragem. Ele gostou e se transformou no meu maior professor e incentivador na minha carreira. Sempre me orientou e torceu muito por mim”.
Sua estreia em jogos oficiais do Campeonato Pernambucano jamais esquecerá. No dia 8 de fevereiro de 2007, o Santa Cruz perdeu para a Cabense de virada, por 3×2, depois de estar vencendo a partida, por 2×0. Recebeu muitos elogios pela sua atuação. Mas, naquele ano, só apitou esta partida. Teve que esperar o ano todo para poder voltar a apitar. “Só voltei no ano seguinte. Tive muito apoio de pessoas como Valdomiro Matias, Francisco Domingos, Manoel Amaro e Edson da Hora, que me orientaram e ajudaram demais no início da carreira”, destaca.
Outro fato importante na sua carreira aconteceu em 2009, quando pela primeira vez arbitrou uma partida transmitida pela TV: Sport 2 x 1 Petrolina. “Não estive bem naquela partida. Expulsei o melhor jogador do time do sertão, num lance muito polêmico. Em seguida, no lance do gol do Sport, o jogador rubro-negro puxou a camisa do seu marcador e eu não vi. Levei uma geladeira e pedi para ser afastado do quadro, lembra.
Serviu de lição. Sebastião Rufino Filho se preparou mais. Focou no seu oficio. Não demorou muito para ter a segunda oportunidade de apitar uma partida televisionada. A concentração foi total para a partida Sport x Porto. “Entrei em campo mais bem preparado. A frustração daquele outro jogo exibido pela TV se transformou em aprendizado. Por isso, a segunda partida pela TV foi um divisor de águas. Peguei o embalo e passei a enxergar algo maior para mim na arbitragem,”, afirma Rufino, que entrou no quadro da CBF em 2009. “Hoje em dia, o árbitro entra mais bem preparado para os jogos. A comunicação é mais fácil, ele entra munido de muitos detalhes, como o perfil de cada jogador em campo, a situação dos clubes no campeonato. Enfim, esses detalhes fazem a diferença”, completa Rufino, que é a favor da tecnologia no futebol. “O VAR é benéfico, mas ainda estamos passando por uma transição e, por isso, erros ainda acontecem”, diz.
Agora, como analista de árbitragem, colaborando com a seção Homem de Preto do Blog, Sebastião Rufino Filho sente-se feliz em ver uma nova porta se abrir na sua vida. “Agradeço demais o convite. Encaro como um novo desafio na minha vida. Vou continuar fazendo algo que gosto, que fiz durante 17 anos da minha vida. Desta vez, sem a pressão e cobrança dos jogos. Para mim, de certa forma, é confortável. Vamos seguir a vida, analisando a arbitragem e não mais sendo analisado”.
Aqui o texto vai em formato de Nota do Blog MEC:
É uma grande satisfação que o Blog estreia com a colaboração de Sebastião Rufino Filho na seção Homem de Preto. Sempre o achei um profissional dedicado, sério, educado e boa pessoa. Anos atrás tive uma experiência muito boa, quando Adriano Siebra aceitou o convite para ser comentarista do Blog do Torcedor. E resolvi repetir a dose no MEC. Claro que lamentei a decisão dele em encerrar a carreira de árbitro. Achava que Rufino ainda teria anos a frente para brilhar. Mas é uma escolha que devemos respeitar. Como tudo acontece no tempo certo, estreamos juntos. O Blog começa com um grande nome entre os seus colaboradores e parceiros. Agradeço demais a confiança e respeito. Vamos em frente porque a partida só está no começando.
Já já tem o primeiro texto.
Aguardem!