O primeiro árbitro que me chamou a atenção no futebol pernambucano foi Aristóteles Cantalice. Primeiramente, pelo vasto bigode. Nas primeiras partidas que o vi atuar, ainda criança, achava graça ver aquela figura correndo para lá e para cá com o bigodaço a lá tio português da cantina. Mas o cidadão impunha respeito. Para mim, o melhor árbitro dos anos 80. E que brilhou também nos anos 90.
Crédito da foto: Rodrigo Lobo/acervo JC Imagem
Nesta noite de 6 de dezembro, Cantalice se foi. Mais uma vítima da Covid. Chegou a presidir a comissão de arbitragem quando pendurou o apito. Após sua saída, nunca mais eu o vi no futebol estadual. Abaixo, publico texto do companheiro Claudemir Gomes, publicado em seu perfil no Instagram:
A notícia teve o impacto de uma falta violenta, nos deixou atordoados:
Aristóteles Cantalice faleceu vítima de Covid!
Sem dúvida uma dessas surpresas da vida que tem o gosto amargo de um gol contra. Recorri ao VAR, capitaneado por amigos comuns, para ter certeza da veracidade do fato. Confesso que rezei para que fosse uma fake news.
Nada a fazer. Muito a lamentar. O jogo da vida é repleto de perdas e ganhos. Tota – era assim que eu o tratava – foi o irmão que o futebol me presenteou. Nos conhecemos e estreitamos nossos laços de amizade da forma mais natural possível. A época, eu repórter esportivo do Diário de Pernambuco, e ele árbitro de primeira linha do quadro da FPF. O almoço da sexta-feira, no Galo D´Ouro, era “sagrado”. Só não acontecia quando ele era obrigado a viajar para cumprir tabela da CBF.
O vasto bigode, mais preto do que a plumagem da graúna, era sua marca registrada. Servia para emoldurar uma carapuça carrancuda, que disfarçava o ser humano dócil, sensível e solidário que era Aristóteles Cantalice.
Perfeccionista, sempre foi intransigente na defesa dos interesses da classe (árbitro de futebol). A família era seu grande patrimônio sentimental, e fazia questão que os amigos se sentissem como se fossem membros dela.
O sim e o não eram as coisas mais naturais para Cantalice, razão pela qual, ele se posicionava como um pai, ou irmão mais velho, para nos aconselhar, e com a mesma naturalidade, era surpreendido se derretendo em lágrimas ao assistir um filme que mexesse com sua emoção.
Tota era um irmão duro, mas que nunca perdeu a ternura.
Saudade meu amigo!