Na foto, William Duarte está à frente das ações de produção e marketing, enquanto o amigo de infância Rodrigo Ojuara é o braço histórico da PE Retrô
William Duarte e Rodrigo Ojuara carregam por toda vida uma paixão intensa pelo futebol. São amigos de infância e o esporte fortaleceu essa relação. E olhem que se a vida fosse um Clássico das Multidões, William estaria na arquibancada destinada ao torcedor do Santa Cruz, enquanto Rodrigo estaria na do Sport. “A gente sempre brincou, resenhou um com o outro por causa dos nossos times, mas tudo na base da amizade”, lembra Rodrigo.
Essa paixão levou a dupla de amigos ao mundo do empreendimento. William, enquanto estudava o curso de marketing, abriu os olhos e percebeu um nicho de consumidores de camisas de futebol do passado. E assim, abriu a loja PE Retrô, que já funcionou no Paço Alfândega, mas hoje já “fixou residência” no Rio Mar. Rodrigo, por sua vez, entrou nessa praia como o historiador, que pesquisa tudo referente ao futebol pernambucano, divulgada nas redes sociais e aqui também no blog, assinando a coluna “Senta que lá vem história”. Tudo começou meio que sem querer, mas as semente foi plantada com o amor que se deposita ao clube do coração. Hoje, a PE Retrô é uma referência no futebol da Região.
A história da PE Retrô começou numa viagem de William até Garanhuns, agreste de Pernambuco, para acompanhar o Santa Cruz numa partida contra o Sete de Setembro. Num restaurante da cidade, um torcedor o viu usando uma camisa tricolor histórica de 1987. Tecido grosso, já amarelado pelo tempo, escudo quase descolando do peito. Uma peça que, para muitos, olhando friamente, já deveria ser descartada. Mas o tal torcedor via o valor histórico naquela camiseta. “Ele queria a camisa de todo jeito. Ofereceu R$ 100 e eu não quis. Depois, colocou na mesa R$ 400. Os meus amigos queriam que eu vendesse a todo custo. O valor dava para pagar toda a viagem e ainda sobrava dinheiro”, conta William.
Mesmo não tendo vendido, William pegou o contato do que viria a ser seu futuro primeiro comprador. “Quando voltei para o Recife, fui atrás de uma costureira, que produziu uma camisa semelhante. Depois, conseguir fazer o escudo. E aí, liguei para ele para fazer a venda”, relata. O encontro aconteceu na rua do Lazer, no bairro da Boa Vista. “Vendi a camisa por R$ 120. Ele ficou surpreso: ‘Eu ofereci R$ 400 e você não quis’. Eu expliquei que a outra camisa tinha o valor afetivo. Essa vendida, tinha apenas o valor comercial”, disse.
Com o negócio fechado, o faro empreendedor de William já dizia que o caminho do sucesso estava aberto. Mas aí havia outra missão: divulgar o produtor. William pensou no nome SC Retrô, criou a marca e fez uma página Orkut, rede social popular no Brasil naquele tempo. A procura foi aumentando. Até que William fez um pequeno catálogo das peças e foi para frente do estádio divulgar o produto. “A porta fechada a gente já tem e ela permanecerá fechada se a gente não até ela e abrir”, filosofa.
Com trabalho de formiguinha nas vendas e divulgação, Wiliam foi ganhando forças até mesmo no marketing dos clubes da capital. Percebendo a evolução, William tratou logo de mudar o nome da sua marca. “O SC tinha uma ligação muito forte com o Santa Cruz. As pessoas associavam logo por conta das iniciais e por eu ser torcedor do clube. Então, mudei para PE Retrô, que tem uma abrangência maior”, disse.
Enquanto William erguia a PE Retrô, Rodrigo Araújo se formava em história e atuava como professor. “Eu estava namorando com minha atual esposa. Na época, ela chegou para mim e perguntou: ‘tu queres casar apenas com o salário de professor?’. Então fui atrás de emprego. Nas redes sociais, fui procurar saber o que William estava fazendo. Foi quando soube da loja”, disse.
Rodrigo foi conversar com o gerente, Wellington, irmão de William. Tudo acertado e ele foi contratado para trabalhar como vendedor. “William me deu alguns livros para estudar e eu gostei disso. Eu era torcedor, não me ligava em história. Mas William incentivou, me apoiou”, revela. “Podemos dizer que a PE Retrô não vende apenas a camisa, a empresa vende também a história do futebol”, completa.
O crescimento da PE Retrô é galopante. As portas se abriram para parcerias com os clubes. O primeiro foi o Santa Cruz, na gestão Fernando Bezerra Coelho, com quem William Duarte assinou contrato para produzir uma linha retrô do clube. “Ele me chamou para conversar na sala para assinar contrato e foi a primeira vez que tomei uma dose de uísque na vida”. William fez uma campanha de marketing agressiva. “Distribui cartões telefônicos para amigos da faculdade. E cada um dos amigos passou a manhã toda ligando para o Arruda para procurar saber sobre a nova camisa”, diz, lembrando que a camisa chegou no clube pela manhã e, no início da tarde, já havia se esgotado.
Foi outro ciclo que se abriu na empresa. “Traçamos um planejamento para abrir uma fábrica própria em 2018. No entanto, tivemos um sucesso de vendas muito grande durante a Copa do Mundo do Brasil, em 2014. Lembro que naquele ano contratamos funcionários que falavam inglês e espanhol. De fato, foi muito bom e, por isso, conseguimos abrir a fábrica no ano seguinte”, conta William.
Além da fábrica, William também pode criar uma marca de material esportivo, a LWGA, letras iniciais dos nomes dos seus filhos Lene, William, Gabriel e Alice, mas que carrega o seguinte conceito: Live to Win and Glow up Always (Viver para vencer e melhorar sempre). Com esses dois braços, foi possível trabalhar com os clubes seja apenas fabricando as camisas das marcas próprias dos clubes, como são os casos do Sergipe e Botafogo-PB (recentemente, acertou contrato para fazer a produção retrô do Londrina), seja também fornecendo todo material esportivo do clube, estampando a marca LWGA nos uniformes, como é o caso do Caruaru City, clube que estreou no Campeonato Pernambucano na atual edição.
William, que um dia sonhou em ser jogador de futebol, atuando como meia do Barcelona do Rio Doce, mas que decidiu parar de jogar por conta de uma cirurgia nos pés, é um bom exemplo de ter conseguido construir o seu próprio universo para trabalhar com o que ama. Ao ponto de até gerenciar as lojas oficiais do clube do coração, o Santa Cruz, e produzir as camisas do futebol profissional do Tricolor. O ofício vira prazer, que traz sempre o frescor de boas histórias. Enquanto a gente conversava, William lembrava do dia em que Rodrigo Ojuara estendeu um bandeirão do Sport perto da sua casa logo após uma conquista importante do clube rubro-negro. Mas nada marcou tanto quanto um episódio com sua mãe.
“Minha mãe nunca gostava que eu fosse para o estádio com camisa da torcida organizada. ‘Como você vai usar uma camisa dessa torcida que se chama Inferno? Isso é contra Deus’. Só, que na casa da minha avó, jogo do Santa Cruz era sinônimo de festa e feijoada. Eu dizia a minha mãe que ia para lá e ela permitia. Só que de lá ia para o jogo. Mas teve um dia que ela foi visitar minha avó e descobriu através da minha prima, que era rubro-negra, que fui para o Arruda. Ela foi lá e ficou gritando pelo meu nome”, lembra William, que foi obrigado a sair do estádio. “E o Santa Cruz ainda perdeu o jogo”, completou o empresário, que vive intensamente o presente, como se fosse o passado e de olho no futuro.