Olhando para o passado, quando comecei a amar o futebol, era um certo sofrimento para mim ir ao estádio. Isso porque meu pai não era muito adepto. Preferia ficar vendo na TV. Já eu queria ver ao vivo. Então, para ir ao estádio, tinha que passar por uns dias de convencimento. Ele só mergulhou mesmo no fato de ir ao jogo quando me tornei cronista esportivo. Aí, era festa! Mas voltando a infância… mesmo com essa dificuldade, conseguia ir ao estádio com frequência por conta de um amigo da família e meu tio, que trabalhava numa emissora de rádio. Já um pouco maior, minha mãe liberou ir com os amigos da minha idade. Mas jamais sozinho. Aí a resenha era outra… Quando um jogo acabava, eu ligava para os amigos para ir ao jogo no domingo seguinte. Outra maratona. Mas querem saber… era maravilhoso. O ritual para ir ao jogo era tão bom quanto entrar na arquibancada e ver seu time ganhar. Ele fazia parte do todo.
Bem, nesse domingo em que começa mais uma Copa do Mundo, resolvi resgatar esse prazer que nos dá ir ao estádio de futebol. O publicitário Betinho Montenegro é da minha geração e acompanhou a mudança de comportamento das pessoas em irem ao palco da partida. E assim como eu, se emociona ao lembrar detalhes da ida e vinda de um jogo. Mesmo o time perdendo ou ganhando. A memória afetiva é fogo. Mas também é água nesses tempos quentes. Betinho tinha no pai o motor para sua paixão pelo futebol e pelo Santa Cruz. Ia sempre e deixava a imaginação fluir, voar e ganhar a imensidão. Um prato cheio para suas lembranças, especialmente para quem ama desenhar, como mesmo diz.
Foi assim que Betinho Montenegro quis eternizar todo esse sentimento em um livro: Domingo Futebol Clube. Lançado pela Bagaço, o livro conta a história de pai e filho que vão ao estádio de futebol ver seu time jogar. O filho fica encantado e transforma as jogadas de futebol em pura imaginação. É a fantasia do futebol. Em um texto com rimas, o autor define as jogadas forma divertida, levando o leitor a usar a imaginação e a fantasia para compreender as regras e situações de um jogo de futebol.
Além de escrever, Betinho Montenegro fez todas as ilustrações e artes do livro. E aqui, no Blog, ele conversou sobre como o motivou a escrever a obra e alimentou sua paixão por futebol.
Marcelo Esporte Clube – Como você enxerga a relação da criança com o futebol hoje em dia? É a mesma da sua época?
Betinho Montenegro – Na minha época a gente jogava bola antes da aula, no recreio, na saída da aula e na saída da escola, e quando chegava em casa almoçava e ia pra rua jogar novamente. À noite, ainda jogava uma partidinha de três dentro/três fora, quem for dessa época vai lembrar desse jogo… Ehehehe. Na verdade, a gente jogava muito mais bola do que assistia aos jogos… Vixe, bateu uma saudade agora… A gente morava atrás do Náutico e cada rua tinha um time, sempre tinha um torneio entre as ruas. Era uma época onde morávamos em casa e quase todas as casas tinha um quintal com um campinho de areia, era nossa arena. Hoje, vejo os campinhos de grama sintética dos condomínios e mal vejo as crianças jogando, sem falar que eles sabem muito mais sobre os jogadores da Europa do que daqui, na nossa época a gente só pensava no Campeonato Pernambucano e Brasileirão.
MEC – O que mais te motivou para escrever a obra?
BM – Meu pai sempre me levava para o Arruda para ver o nosso glorioso Santinha. Bons tempos, era uma verdadeira festa. Só que eu achava muito monótono ver um jogo de futebol no estádio. Primeiro porque você via os jogadores tudo pequeno, não tinha replay, não tinha narração… Eheheeheh. Era muito estímulo visual pra mim. Eu ficava vendo a reação das pessoas, o goleiro sozinho, coitado…Às vezes nem pegava na bola. Tinha o juiz, o bandeirinha, a pipoca, o amendoim, a criança com o pai do lado, o bandeirão. Bem, eu não prestava atenção no jogo. Na verdade, eu ficava imaginando um monte de coisa: o cara fazendo gol de bicicleta, a vaca naquele gramado imenso, e isso sempre esteve presente nas minhas ideias. Daí, pensei porque não colocar isso no papel e dividir essa loucura com todos. Como eu amo desenhar, juntei tudo e veio a ideia do livro. Também foi uma homenagem ao meu pai, grande tricolor, sorte que ele viu em vida.
MEC – Quais as obras sobre futebol que você mais curte?
BM – Tenho visto alguns documentários/filmes, tem uns muito bons o de Ronaldo, Adriano, Pelé, Garrincha…
MEC – E teus filhos… curtem?
BM – Tenho duas filhas, uma de 15 outra de 14. A mais nova gosta de jogar e joga bem :). Chegou a treinar, mas futebol feminino ainda tá muito no início aqui no Brasil. Hoje não treina, mas ainda joga.
MEC – Brasil vai ser campeão?
BM – Estou na torcida. Tem time e a equipe parece unida, é o mais importante numa competição curta como a Copa do Mundo. E estou contando com isso. No meu bolão, está lá: Campeão!