Todas as vezes que assisto a jogo da seleção brasileira na Copa do Mundo, ouço a frase que está numa das faixas do segundo disco do Rappa, o Rappa Mundi. Seja minha mãe ou minha irmã, o coro é esse: “Eu quero ver gol”. Eu acho graça. Afinal, elas falam e cobram como se não existisse adversário do outro lado. Eu não vejo graça em vitória brasileira fáceis, sacode de gols em adversários. Ela, certamente, vai maquiar as falhas. E supervalorizar qualidades que não vão levar a nada. O triunfo do Brasil sobre a Suíça, por 1×0, do jeito que foi, suado, sofrido e arrastado, é importante para mostrar realmente o que o Brasil tem a oferecer nessa Copa: um grupo bem unido, opções ofensivas e Casemiro sendo o melhor e mais importante jogador da equipe.
Já se esperava uma partida complicada contra a Suíça. E não apenas pela história que já contava uma invencibilidade dos suíços diante dos brasileiros em jogo válidos pela Copa do Mundo. O que os europeus têm é uma força muito grande na marcação e a leveza de não ter a obrigação de buscar o ataque. Contra o Brasil, jogam esperando um vacilo do Brasil. No entanto, no duelo desta tarde, até que se soltaram um pouco mais, adiantando as linhas defensivas, jogando um pouco mais dentro do campo brasileiro, tocando a bola com calma. Mas sem a bola… era uma marcação forte, especialmente sobre Vini Júnior.
O Brasil não tinha Danilo e Neymar. Para o lugar do primeiro, Tite optou por uma improvisação, colocando o zagueiro Militão, o que me perguntar: o que Dani Alves está fazendo no grupo? Daria sim para o veterano atleta jogar na lateral, pois o Brasil atua com dois pontas (Vini e Raphinha). Neymar, sem dúvida, fez falta e o treinador escalou Fred, um jogador que preenche mais o meio campo, sendo menos agudo. O Brasil teve dificuldades para jogar porque a Suíça viu a seleção mais exposta e também quis buscar o jogo, de forma tímida, é verdade, mas chegando. E destaco mais um bom jogo de Casemiro. Na estreia, fez de tudo na equipe. Menos gol, mandando a bola na trave. Dessa vez, a história foi um pouco diferente.
O segundo tempo mostrou um Brasil mais ofensivo, mas ao mesmo tempo com dificuldades para pressionar. Mas a etapa final também mostrou a seleção brasileira com opções no banco para mudar o panorama da partida. Gostei das entradas de Rodrygo e Antony. O Brasil ganhou mais velocidade e mobilidade para atacar. Abriu o placar com Vini Júnior, numa bela finalização, na saída do goleiro. Mas, na jogada, o VAR fisgou um impedimento de Richarlison. Toda jogada foi anulada. O Brasil não desistiu. Persistência, força, fé. Gostei do Brasil. E mais ainda do golaço de Casemiro. Um volante para lá de moderno, que sai para o jogo com inteligência e faz um arremate que deixou goleiro suíço de queixo caído.
Claro, amigos, que há partidas sofridas que incomodam. Lembro demais a Copa do Mundo de 90, quando os três primeiros jogos do Brasil foram horríveis, mas venceu. E ninguém gostou do que viu. A seleção de Tite encontrou dificuldades para vencer os dois primeiros adversários no Catar. Mas vejo um grupo muito maduro, consciente, confiante, que não se entrega. Não desiste. Nesta tarde, minutos finais da partida, na vantagem do placar, e a seleção no ataque. O Brasil tem lenha pra queimar. E a cada vitória, mesmo suada, mesmo não enchendo às vistas com um bom futebol, ganha confiança. Em si mesma e a da torcida.