Num estado em que a rivalidade do futebol é bem acirrada, como Pernambuco, é normal demais que o torcedor de um clube queira que o rival perca sempre, seja rebaixado, entre em crise, feche as portas, se acabe. Era engraçado ver esse desejo porque era um desejo com doses generosas de humor. Até porque tudo circulava na atmosfera do imaginário. Era só para perturbar o juízo de que amargava as dores da crise. Pois bem, hoje, um dos maiores clubes do futebol brasileiro, que já escreveu belas histórias nas competições que disputou, está à mingua, sem perspectiva de um futuro melhor. Infelizmente, destruíram o Santa Cruz. E só não digo que acabaram porque o clube ainda tem um coração batendo. Aliás, milhares: o dos seus torcedores.
Nos últimos 30 anos, o Santa Cruz acumulou mais frustrações do que glórias. Basta ver a retrospectiva de resultados do time na Série A do Campeonato Brasileiro. O clube que atraiu a atenção de outros clubes do Brasil, nos anos 70, parou no tempo. Se administra o clube como se estivéssemos naquela época. Como se a tradição da camisa tricolor fosse o suficiente para sair de uma crise que, pelo visto, não é fruto de um momento. Passou a ser realidade. A crise se instaurou, ninguém fez nada de forma incisiva, planejada, organizada, com progressão, alicerçada por pessoas que não tem em mente os interesses pessoais. É isso que o Santa Cruz precisa: novas ideias para o clube e não para as pessoas.
E com a crise instalada e solidificada, o coitadismo imperou. No Arruda, não se fala em trabalhar para o Santa Cruz. Se fala em ajudar o Santa Cruz. O ex-diretor executivo do clube, Zé Teodoro, deu um bom exemplo disso: “Aqui tudo é difícil. Quem estiver reclamando, vá arrumar um emprego”. Vou revelar uma coisa: nunca vi ninguém tão despreparado para o cargo como Zé Teodoro. Como faz tal declaração? Está ali para resolver a situação do elenco, gerenciar crise ou defender os interesses de quem o contratou? Como jogador vai a campo assim?
O que mais preocupa nessa realidade do Santa Cruz é vê que está no clube não sabe o que fazer. O time foi eliminado da Série D do Campeonato Brasileiro, não tem mais jogos nessa temporada e nem tem previsão se terá jogos no segundo semestre do ano que vem (vai depender da classificação do Retrô), e ninguém fica indignado. Ninguém tem um caminho para se mudar a mentalidade que pairar no Tricolor. O Santa Cruz é um mar de confusões, intrigas e brigas que até a SAF, que está sendo apontada por todos os clubes do Brasil um caminho tranquilo para construir o futuro, é motivo de polêmica.
Reforço: o Santa Cruz está nessa situação porque foi eliminado na Série D. Essa realidade foi plantada num passado. Portanto, todos que passaram pelo clube deixaram uma parcela de responsabilidade. E o que se vê, agora, é ninguém aparecendo para criar uma nova trilha, buscar uma aproximação, estudar uma nova maneira de tornar o Santa Cruz forte. Vai ter que juntar os cacos para voltar a brilhar. Com calma.
Mas é preciso dar o primeiro passo. E o primeiro sempre é a forma de pensar e enxergar o clube.