Toda vez que converso com amigos sobre formação de atleta, lembro do título que o Brasil ganhou de ser o País do futebol. E é mesmo. Não levo em conta o bom momento técnico para chegar a essa conclusão. Afinal, fases vão e vêm. São ondas. Como acontecem em muitos países. Mas, no Brasil, o futebol está no sangue, no sonho de criança em ser jogador profissional. É uma verdade. É cultural. Isso me impressiona cada vez mais, pois a maioria dos clubes brasileiros não oferecem portas ideais para a formação de atletas, o que é uma lástima.
Trago esse assunto aqui no blog por conta de uma sequência de fatos que tem laços. Primeiro, porque acabo de ler a bíblia do futebol brasileiro: O negro no futebol brasileiro, do pernambucano Mário Filho. Uma obra obrigatória, espetacular que mostra a origem do futebol brasileiro sufocado pelo racismo. Na mesma semana, recebo o convite para avaliar o trabalho de conclusão do curso de Jornalismo da estudante Maria Eduarda, que abordou a questão de revelação de talentos. E me chega também a história do atleta Mateus Rosas, através do amigo rubro-negro Ed Ruas.
Assim como milhares de crianças e adolescentes, Mateus sonhou em ser jogador de futebol profissional. E conseguiu. Foi revelado pelo Sport, na mesma geração de Everton Felipe e Joelinton. Da Ilha do Retiro, foi para o Atlético-MG, onde ficou apenas um ano e o contrato findou. Voltou para Pernambuco para defender o Salgueiro, em 2016.
Foi uma passagem sofrida, pois rompeu o joelho direito, ficando 8 meses no departamento médico. Após a recuperação, fez uma peregrinação: Cabense, São Paulo Cristal-PB, América-PE… Até voltar ao Salgueiro, em 2020. Foi campeão pernambucano. Seguiu na disputa da Série D. Boas partidas. Novos caminhos foram surgindo.
Ao finalizar a competição, recebeu a proposta do Águia de Marabá-PA, para jogar o Estadual. “Fui titular absoluto do time do técnico Galvão. Perdemos nas quartas-de-final para o Remo”, relembra. No segundo semestre de 2021, foi para o Central, jogar a Série D. “Cheguei com Júnior Baiano e foi titular absoluto. Foi complicado. Recebi o salário do primeiro mês e o último. Fiquei por lá quatro meses”, conta.
Atualmente, Mateus está sem clube. Mas segue com a fé de que algum clube vai apresentar uma oportunidade para mostrar o seu futebol. E aliviar a situação de sua casa, já que a esposa, Luana, também está sem emprego, e precisam cuidar da filha Alice Vitória, de apenas 2 anos.
A prova da sua fé está na rotina intensa de treinos. Solitário, faz uma série de treinamentos como se fosse entrar em campo a qualquer momento. Com o sentimento de gratidão por tudo que o futebol já deu. Até mesmo por aquilo que o fez ficar triste. Mas, ao mesmo tempo, forte. Quem quiser conferir, segue ele no instagram. O perfil é @matheusrosas96_
“Sou um cara comprometido comigo mesmo. Sigo me esforçando. Treino em casa, improvisado mesmo, sem ajuda de ninguém. Tenho contato com os preparadores físicos que me dão orientação no que fazer. Todo dia a esperança é de conseguir algo. Vai começar a Série A2 do Pernambucano. Vamos acreditar que algo vai acontecer”, afirma.
Mateus treina sem saber como será o amanhã. Assim é a vida. Em seus pensamentos estão a imagem de poder voltar a entrar em campo e mostrar o que sabe e gosta de fazer: jogar futebol. É volante que sabe jogar e que gosta de sair para o jogo. Não é fácil ser jogador de futebol no País do Futebol. Não é só glamour e milhões que fazem o garoto ser atleta. Mateus busca o seu espaço com suor, lágrima e trabalho. Aqui no Blog, torço para que as portas do mundo da bola voltem a se abrir para ele.