47 anos, rodado no futebol nacional e íntimo do torcedor pernambucano. José Roberto Fernandes Barros ou, apenas, Roberto Fernandes, sempre chamou a atenção pelo seu estilo falante e inquieto na beira do gramado. Porém, tem um lado do treinador que muitos não conhecem e que ele está tentando desempenhar por amor à sua profissão e para o bem da nova geração. Confira a entrevista exclusiva com o treinador para o nosso Jogo Rápido.
Na sua visão, por que os treinadores não conseguiram ainda superar a cultura do resultado imediato?
Na verdade, não são os treinadores. Os dirigentes que não são profissionalizados. Mesmo quando têm executivos, eles atrapalham demais. Ainda tem uma arma letal: a rede social. Antes, o dirigente tinha retorno apenas da mídia tradicional. Agora, com a rede social, é o tempo inteiro pressionando, opinando. Conheço dirigente que toma uma decisão e vai ver a repercussão na rede social.
Você acha possível conseguir uma união da classe para alguma garantia de estabilidade?
Os treinadores estão batalhando juntos à CBF para tentar uma estabilidade. Tem um grupo no Whatsapp que tem uns 200 treinadores que trabalham para isso. Todos ficaram indignados com o que aconteceu com o Zé Ricardo (ex-técnico do Botafogo). Há uma indignação gigante no grupo, mas não age fora dele. Ainda existe um medo. Cito poucos que tomam alguma atitude mais firme, como Mazola Jr. Falta mobilização maior da classe. Eu não quero super proteção, mas queria um respeito. Não temos respeito. Eu sou demitido e o outro assume sem que eu receba. Tem que haver a regulamentação da profissão. Ter um direito regido por lei.
Como aconteceu sua saída do CRB-AL? Foi uma decisão sua ou do clube?
A saída do CRB foi uma decisão minha. Tirei o CRB do rebaixamento, classificamos para a Copa do Brasil, a segunda maior invencibilidade na temporada (16 jogos sem perder), classificado no Nordestão e vaga na Final do Estadual. Logo depois da partida contra o Santa Cruz, ele mandou uma mensagem dizendo que faltou comando, pois mandei o time para frente, que desrespeitei o Santa. Eu disse: “Presidente, o senhor está completamente equivocado. Então, não tenho mais o que fazer no clube”. Ele respondeu ok e eu já fui me despedir no vestiário dos jogadores.
Você acha que os treinadores brasileiros estão conseguindo se reinventar da forma ideal? A relação é boa entre os profissionais?
Estamos conseguindo nos reciclar, sim. Mas a imprensa, nesse quesito, é muito superficial. Vocês da imprensa precisariam saber o conteúdo que é nos passado nos cursos da CBF. É equiparado ao da UEFA, até para ter aceitação na Europa. Mas a gente tem que tá dando satisfação a pessoas que não acompanham esse processo. Então, estamos muito atrasados nesse sentido.
Quais os principais nomes dessa nova geração?
Roger tem muito conteúdo, é um treinador de muita qualidade. O Barbieri tem um potencial incrível, mas ainda é um pouco verde. Zé Ricardo aparece como nova geração, mas tem bagagem por ter passado muito tempo trabalhando nas categorias de base. Dado Cavalcanti tem um futuro muito promissor, por ser bastante jovem e ter bastante talento.
Quem é uma referência para o seu trabalho?
Depois de Cruyff, sou fã de dois caras, hoje, no mercado: Guardiola, que é um pensador. Ele não só copia, mas sempre traz nova ideias. Simeone nunca tem o melhor orçamento, mas ele está sempre na disputa, na briga por títulos. Eu me identifico muito com ele. Nunca tive condições de disputar um campeonato na condição de favorito. Tive que me superar. Tite, no Brasil, é o diferencial. Está acima dos demais.
Você foi duramente criticado por ter defendido a falta inteligente. Mas, na eliminação do Brasil na última copa, muita gente criticou o volante Paulinho por não ter usado desse artifício na partida contra a Bélgica. O que você acha disso? Ainda defende a falta inteligente?
Há 12 anos falei isso. É um recurso do futebol. Todo esporte coletivo de contato tem isso. Cabe se inibir. Nos esportes amadores tem o limite de falta. Levei muita pancada e hoje está todo mundo elogiando e cobrando.
Você e Dado realizaram um simpósio para discutir ideias para o futebol pernambucano. Qual o saldo do evento? Quais os planos? Há sinal de avanço no futebol de PE?
Queremos fazer o C-Fut. Ampliar para debater o futebol do Nordeste e o Brasileiro em geral. Queremos trazer uns quatro treinadores de ponta para trocar ideia, no mesmo formato do ano passado. Vamos fazer um evento cada vez maior. A nossa ideia é torná-lo frequente dentro do calendário do futebol pernambucano.