“Só Jesus salva!”
Essa pode ser uma afirmação de um incauto torcedor religioso, que não acredita mais no que vê do seu time de coração. Mas pede ajuda aos céus para que tudo aconteça de bom. No caso do torcedor do Flamengo, até ateu está nessa de clamar por Jesus. Afinal, no rubro-negro cariosa, o Todo-poderoso também está na beira do gramado. E atende por Jorge Jesus. O português comanda o clube mais popular do Brasil, que tem o melhor time, que mostra o melhor futebol, que está com a mão na taça do Campeonato Brasileiro, que pode voltar a conquistar a Libertadores e o Mundial.
Jorge Jesus não é nenhum gênio da raça como a imprensa do sudeste quer o colocar. É um bom treinador, bom comandante. Mas daí a dizer que ele implantou um sistema de jogo que é o melhor dos últimos 50 anos do futebol brasileiro…. calma aê, né?! Vai devagar. Esse teor “super” dos elogios feito ao treinador é que irrita, sinceramente. E isso não se deve apenas ao fato do técnico ter sua qualidade. Se deve também ao fato de estar no Flamengo, o clube que tem a maior torcida do Brasil e que garante audiência para tudo que é emissora de TV e estação de rádio. Por isso, cada vez que se referem a ele, a palavra Mister é dita 5 vezes.
Admito que não tenho paciência para esses elogios intensos, exagerados ao ponto de transformar o treinador da tábua salvadora do futebol brasileiro. Mas Jorge de Jesus também não tem culpa. Faz tempo que não temos treinadores que empolguem e tragam confiança para um trabalho na seleção brasileira. O último que me inspirou confiança foi Muricy Ramalho, que rejeitou a seleção sabe lá porque, quando era do Fluminense, e que hoje, é comentarista da Sportv. Se já existia por parte de muitos torcedores e por parte da mídia a vontade de ter um treinador estrangeiro no comando da seleção, esse desejo aumentou com o ótimo desempenho do Flamengo de Jorge de Jesus. E haja pressão.
A batata de Tite arde, claro. Não tem como ser diferente. Focou assumir a seleção, se preparou para isso, especialmente no seu discurso bonito, na postura de agradar a todos, colocando integrantes da comissão técnica para participar das entrevistas coletivas e fazendo rodízio de capitães. Mas se perdeu na vaidade durante a Copa e caiu na mesmice. Levou um nó da Bélgica no Mundo e de lá para cá, não reavaliou nada. O time tem a mesma postura de sempre. Seja qual for o adversário. A conquista da Copa América não enganou ninguém. O futebol continuou pobre. E Com a seleção distante do torcedor brasileiro, os jogos não empolgam. Seja com rivais tradicionais, como a Argentina, ou diante de seleções mais frágeis, como a Coreia.
Eu, sinceramente, não me empolgo também com a geração atual. Tecnicamente falando, tirando Neymar, os demais são do mesmo nível e poucos chamam a responsabilidade. E mesmo exaltando Neymar, sou desconfiado dele por conta do seu comportamento. A fama de “cai cai” que ganhou na Copa é coisa antiga que sempre fecharam os olhos e passaram a mão na sua cabeça. Para não “queimar” o talento, claro. Afinal, o Brasil precisa de ídolos. Resultado: o Brasil tem um talento mimado.
Sou a favor de uma redescoberta do futebol brasileiro desde o famigerado 7×1. Mas tudo é atropelado no Brasil. Há interesses que vão além das quatro linhas. Por isso, tudo é levado na barrida. Até que um dia os deuses do futebol nos olhem de outra forma e nos premiem com um título importante. Enquanto isso, o povo clama por Jesus.