Equipe campeã em dezembro, mas que já está de olho nas disputas que terão pela frente em 2022/Foto: Divulgação
Carol Longman, Eduarda Buás, Elizabeth Moura e Elke Viviane são jogadoras de vôlei de praia. Carregam no coração o amor ao esporte e a satisfação e alegria de estarem juntas para poder superar algo que a sociedade impôs: o preconceito. As quatro são surdas, mas nem por isso deixam de fazer o que gostam, embora muitos pensem o contrário. Fortaleceram a amizade nessa busca por inclusão, mostrar que tudo é possível, por mais que tudo pareça limitado, impossível.
Em dezembro do ano passado, representando a Federação Pernambucana de Surdos, elas estiveram na Surdolimpiada Nacional de Vôlei, disputada em São José dos Campos. A dupla Carol/Beth foi campeão, enquanto Elke/Eduarda ficou em terceiro. O ótimo desempenho abre portas para boas perspectivas para as competições que terão pela frente. Em abril, tem o Circuito Nacional de Vôlei de Praia, em Brasília. A equipe está se preparando para essa disputa. As meninas também estão classificadas para a 24ª edição da Surdolimpíadas Mundial de Verão, que será disputada em Caxias do Sul, no mês de maio. Pelo amor ao esporte, ninguém segura as garotas. Por isso, elas esperam receber apoio financeiro para ir par disputa. E fazer, novamente, história.
A empolgação das meninas é a mesma de quando começaram a montar a equipe de vôlei feminina há cerca de dez anos. Na época, só havia equipe masculina e outras equipes de ouvintes. O sentimento de exclusão que doía. Mas não reduzia a força para buscar o sonho de jogar e mobilizar pessoas que queriam jogar. “Quando procurei a Associação de Surdos de Pernambuco (Asspe), só tinha meninos jogando. Aí, eu questionava porque as mulheres não têm espaço, precisamos valorizar, as libras a comunicação. Foi quando comecei a buscar as meninas para jogar para dar mais visibilidade aos surdos”, contou.
Formada em pedagogia, com especialização em estudos para surdos, Carol é uma abnegada pela inclusão dos surdos na sociedade. Além da sua formação acadêmica e luta para conseguir espaços para os surdos praticarem esportes, ela atualiza o canal do Youtube A moda muda, ao lado da sobrinha Luiza, que é formada em publicidade. No canal, Carol faz entrevistas, curiosidades entre outas aptidões, sempre usando a linguagem das libras, mas com legendas para ampliar o foco da comunicação. Confere aqui um dos vídeos em que Carol apresenta a sua residência.
A entrevista que o blog fez com as garotas contou com o apoio importante do treinador Edson Flávio, professor de educação de educação física que trabalha na secretaria de educação e esportes. Ele entrou na equipe em 2012 por indicação do então diretor de esportes da secretaria, o professor Ademir Teles, o Dema. Naquele ano, as meninas foram disputar um torneio na Turquia e precisavam de um técnico. Flávio foi o indicado, mesmo sem saber usar a linguagem das libras.
“Elas próprias me ensinaram e eu sigo aprendendo” , afirma Flávio. “Construímos um ambiente família e eu sigo com elas até hoje. Quando voltamos do torneio, minha curiosidade aumento sobre a linguagem das libras. Acabei fazendo uma pós-graduação”, complementa o treinador.
O torneio internacional foi a pavimentação de um caminho que não tem mais volta. Elas abriram as portas para muitos outros surdos, que por algum motivo se sentiam tolhidos para ingressar numa disputa, acreditarem em seu poder de superação. Hoje em dia, a associação tem mais de 800 inscritos.
Uma das surdas mais empolgadas com a prática esportiva é Elizabeth Moura Rosa Borges, a Beth. Ela já disputou futebol, futsal, natação, handebol. “Jogo por prazer e porque sou muito competitiva”, diz. Ao receber o convite de Carol para integrar a equipe de surdas do vôlei de areia, não pensou duas vezes. “Topei, mas só fui imediatamente porque estava com o pé machucado por causa do futsal. Assim que fiquei boa, me integrei.
Elke Viviane também não começou sua história esportiva no vôlei. No começo, queria saber do futebol. Por falta de tempo devido ao trabalho e casamento, saiu de cena, voltando à Associação em 2018, já interessada em jogar vôlei de areia. “Não queria ficar parada. Fui chamada para as competições, fiz amizade com as meninas e estou jogando com elas. A minha comunicação e saúde melhoraram bastante”, conta.
Eduarda Silva, a Duda, ingressou na equipe como algo terapêutico. E sente-se feliz. “Adoro fazer amizade, viajar e isso o vôlei me ajudou muito. Acho que é muito importante ter a visibilidade no meio. Não é uma vida fácil. E quero ser um modelo para os outros surdos que querem participar”, diz Eduarda, que é formada em tecnologia da informação.
Os treinos vão continuar firmes. As meninas querem conquistar o mundo para mostrar que tudo na vida é possível, dando impulso para que outras pessoas possam acreditar no seu potencial. E elas esperam que a sociedade possam ajudá-las a fazer que o coração grite ainda mais forte o amor pelo esporte.