Nos últimos sete anos, o Sport revelou dois jovens bons atacantes. E lucrou, viu?! Em 2015, vendeu Joelinton para o Hoffenheim, por R$ 7 milhões. Nesse ano, Mikael foi negociado para o Salermitana, da Italia, por empréstimo, por R$ 4,8 milhões. Agora, o Leão pode morder mais R$ 15 milhões caso o time italiano consiga escapar do rebaixamento. E está bem perto disso. Ou seja, se o Leão começou a temporada sisudo. Está prestes a escancarar um sorriso.
Antes de ir ao foco do tema desse texto, é importante falar dos dois atletas. Joelinton apareceu, mostrou qualidade, e rapidamente, foi negociado. Achei precoce porque a sua qualidade não parecia ser consistente. Oscilou demais. Mas na Europa, o rapaz só fez evoluir. Foi para o Newcastle. Não atua mais como atacante. É volante. Está no terceiro ano no clube inglês e foi eleito pela torcida, como melhor jogador do clube no ano. Um humilde atleta, com a cabeça boa, aberta para os bons conselhos, criteriosa para afastar do mal e foco, foco, foco. Colhe o que plantou, e segue plantando.
Mikael não vem tendo o mesmo espaço que seu ex-companheiro. Jogou pouco na Itália. Mas ele tem um potencial incrível para mostrar o seu valor. No Leão, superou crises, aprendeu com seus erros, fez gol de tudo quanto é jeito. E tem aquele estilo de atacante raro por aqui: referência na área, trombador, força, explosão e habilidade. agora, é paciência para chegar o seu tempo.
São vários os pontos em comum que existem nas histórias de Joelinton e Mikael. Do mais óbvio, surgirem da categoria de base do Leão da Ilha do Retiro, ao financeiro, que rapidamente trazem uma boa quantidade de dinheiro para os cofres do clube. Mas tem um mais importante: a comprovação de que o caminho para os clubes do Nordeste é o bom trabalho nas divisões de base. Quanto mais revelar atletas, mais possibilidade de bons negócios e, consequente, mais dinheiro. Esse ponto em comum poderia estar no status do “óbvio”, mas vai no mais importante para que seja evidenciada a necessidade de oxigênio para nossa sobrevivência.
Mas também é importante deixar claro que existe uma diferença entre revelar e o jogador surgir. O primeiro termo é um processo natural do atleta, que passa por um aprendizado técnico e tático, comportamental, mental, educacional… com a intenção de formar um atleta, um profissional que respeita as regras e pronto para encarar uma carreira do futebol que é rápida e voraz. O surgimento do atleta é fruto das circunstância. O jogador está na divisão de base, alimentando o sonho de jogar ao lado do ídolo, sem bagagem de jogos, sem apoio psicológico…vão na raça agarrar a chance que aparece no time profissional porque, geralmente, o clube não tem dinheiro para contratar jogadores mais tarimbados.
Em 2011, o Santa Cruz foi campeão pernambucano com uma equipe nova, de jogadores da casa, muitos até escanteados, como o volante Memo e o atacante Gilberto, que só entrou no time por falta de opções no ataque. O garoto entrou, fez gols importantes e decisivos, brilhou, foi negociado e até hoje rendeu dinheiro ao Tricolor. Aquele time foi base do tricampeonato estadual e a pedra fundamental da chegada do Santa Cruz até a Série A (naquele longínquo 2011, o Tricolor teve que lutar para garantir vaga na Série D). Pena que o Tricolor não tenha enxergado isso. O tempo passou e o clube regrediu.
Hoje, o sucesso de Joelinton e a possibilidade de Mikael de também brilhar na Europa é quase um milagre. Porque a velocidade que o mundo se abriu para esses garotos poderia mexer com a cabeça de ambos. E, pelo menos até agora (e espero que assim seja durante anos e anos), os pés estão no chão. Muitos eles já fizeram. Na raça, no tranco, na coragem. Mas ainda há muito a fazer. Na velocidade que o mundo nos dá: “num piscar de olhos, tudo se transforma.. Tá vendo, já passou”.
Boa sorte a Joelinton e a Mikael. E que os clubes de Pernambuco invistam nas divisões de base. É um importante caminho.