Quando fui ao estádio pela primeira vez foi para ver o Sport enfrentar o Grêmio, no já longínquo 13 de abril de 1983. O estádio do Arruda para aquele garoto de 8 anos era de fato um Mundão. Mas que pela limitação da minha visão e inocência de não saber até onde ia meu pensamento, o meu universo era apenas os 22 marmanjos correndo atrás da bola, meu pai e meu padrinho que me acompanharam e o vendedor de picolé, que eu ficava de olho dele para não sair de perto de mim. Afinal, a cada meia hora, queria que meu pai comprasse um para mim.
Naqueles pouco mais de 90 minutos de bola rolando, o Sport conseguiu o empate em 2×2, nos minutos finais diante de um adversário que, meses depois, seria campeão mundial. Lembro que já estava saindo do Arruda quando ouvimos o grito da torcida. Era pênalti para o Sport. Voltamos correndo para ver Wilson Carrasco mandar para as redes e decretar o empate.
Aquele instante era o segundo passo do meu amor por futebol. O primeiro havia sido dado pelo meu envolvimento à Copa do Mundo de 1982, que terminou de forma melancólica, com a derrota da seleção brasileira para a Itália, por 3×2. O País inteiro chorou os três gols de Paolo Rossi e eu sem entender patavinas. Afinal, de contas, achava o máximo ver a união do povo em torno do esportes. E mais: não tinha aula na escola em dias de jogo do Brasil. Quer coisa mais maravilhosa para um garoto de 8 anos louco para se divertir.
O tempo passou e me tornei cronista esportivo. Vim trabalhar numa área que me alimentava de emoção e alegria desde criança. Que mágico, hein?! Abri meu horizonte e percebi algo tão óbvio: no estádio de futebol há um mundo, vida pulsando nas arquibancadas, o amor louco pelas cores do time, a lágrima sofrida pelo time que faz esquecer as amarguras do dia a dia de casa, do trabalho, da rua. E queria tanto ter o que Nando Reis escreveu e Marisa Monte cantou: “a velocidade para ver tudo e assistir tudo”. Tudo ao mesmo tempo agora. Algo titânico, hein?!
O giro do tempo não para. E encontrei uma poderosa que conseguia fazer isso com o amor que se sente pela vida. Empunhando uma máquina fotográfica e de costas para o jogo no gramado, Bela Azoubel registrava e ainda registra todo o sentimento que há nas arquibancadas. Tudo começou de forma natural, simples, para um trabalho de conclusão de curso de fotografia. Mas que foi alimentado pela energia do seu coração, em simbiose com o coração de cada um dos que estão comemorando, sofrendo, gritando e chorando pelo seu time. Nascia o Amor à camisa.
Fui o escolhido para tocar esse projeto com Bela em 2010. No ano seguinte, juntos, lançamos o livro Amor à Camisa, que foi um belo presente para quem participou de um evento promovido pela prefeitura do Recife e o Governo do Estado de Pernambuco que marcava a contatem regressiva de mil dias para a Copa do Mundo no Brasil. Foi lindo demais. Nossa amizade já estava sólida. E olhe que começou com um aceno no Facebook.
Os anos passaram. As redes sociais ganharam força. Mergulhamos juntos nesse mar. Demos as mãos juntos a outros e outros apaixonados pelo esporte, que fazem de tudo para empurrar o time do coração. Bela ainda mais do que eu. Não tem tempo ruim para ela. Vai a quase todos os jogos. Viu acesso, rebaixamento, vitórias, derrotas, empates apáticos. Eu sou um apaixonado por futebol à moda antiga, que vibro por aqueles que derramam lágrimas e suor pelo clube. Pois sou um admirador da humanidade que tento encontrar em casa ser humano. Chorar pelo clube é humano demais. E o Amor à camisa é a potencia máxima da humanidade.
A inquietude de Bela Azoubel fez o Amor à camisa atingir um novo patamar. A primeira edição do Prêmio Amor à camisa, que rolou no dia 5 de novembro de 2022, na Confraria da Barba, no bairro de Casa Forte, no Recife. Local agradável e que casa bem o nome com a proposta: uma confraternização maravilhosa com muitas pessoas que estava vendo pela primeira vez. A união feita através do futebol, da amizade, do amor, cujo a ponte foi construída por Bela.
O evento teve homenagem a todos os torcedores, claro. Porque são eles que dão o colorido especial em todas as partidas. E a festa do Amor à camisa teve um colorido mais intenso, pois todos estavam leves, soltos, animados, sorrindo, brincando até com a campanha ruins dos seus times. A congregação foi algo espetacular. Como deve ser o futebol. Me remontou aquele 1983, tempo em que não havia divisão das torcidas pela polícia. Tudo era misturado. Como se o amor fosse líquido e insolúvel.
Através de uma equipe de jurados, escolhemos a imagem do ano e o torcedor do ano. Os ganhadores foram os seguintes:
Categoria torcedor do ano: Thais Carvalho (Foto), em primeiro lugar, Daniel “Mito” em segundo, e Johnson Franklin “O cara do Escudo”, em terceiro.
Categoria imagem do ano: Thais Carvalho, em primeiro, Wellington e Letícia, em segundo, e Almir Pedro, na terceira posição.
Houve sorteio de vários brindes para quem estava presente e homenagem aos fotógrafos que clicam tudo e congelam o mundo da bola. Foi maravilhoso. Os premiados estavam felizes, claro. Mas todos nós que ganhamos. Que venham mais anos de Amor à camisa firme e forte como o mais lindo amor ao próximo.
Agradecimentos aos parceiros: Confraria da Barba, Vaporetto, Beleleu, Lojao do Cabeleireiro, Hairfly Cosméticos, PE Retro , LWGA, Adoçar, 12 gomos, Cendesul, Mangaio Hortifruti, Produtos da Fazenda, Betnacional, Raposo Designer, Harô Sushi, Hoolibras, Nawa Açaí, Babylon.