Assim que o lateral Montiel estufou as redes do goleiro francês Llorris estava decretado: Argentina, tricampeã mundial. E também iniciava uma discussão que parecia infindável: quem é o maior jogador da história do futebol argentino: Maradona ou Messi? E seria infindável se não houvesse um fato marcante, que abalasse a estrutura do planeta: a morte de Pelé, o maior de todos, o gênio, o Rei. Mas até mesmo a despedida do maior jogador de futebol de todos os tempos não nos livra de questionamentos sobre o efeito do tempo na relação do público com o esporte, com a forma de consumo, com a memória e com o respeito aos ídolos.
Bom, antes de falar do Rei Pelé, voltemos aos argentinos. Eu vi Maradona jogar. Assisti em campo na Copa do Mundo de 82, quando jogou muita bola, mas não brilhou e ainda perdeu a cabeça contra o Brasil, dando uma pesada em Batista e sendo expulso. Depois, brilhou Napoli, ao lado de Careca e Alemão, quando o futebol italiano era o ouro do futebol europeu. E, em 1986, praticamente ganhou a Copa do Mundo sozinho. O homem só não fez chover.
Quando Messi começou a brilhar, muitos já falavam que ele seria maior do que Maradona. Quando começou a conquistar os títulos no Barcelona e atingir marcas sensacionais, já era dado como certeza. Sempre respondi quando questionado sobre o assunto: “Quando Messi ganhar uma Copa do Mundo, a gente conversa”, deixando claro minha predileção por Maradona. Messi ganhou, e agora? Continuo preferindo Dom Diego… O que não diminui a minha admiração por Messi e o reconhecimento da sua importância para o futebol. E sabem por que? Simplesmente porque essa discussão é inócua, sem sentido. Só serve para alimentar discussão em mesa de programa de TV e também bem de bar.
Nada que Messi fez hoje apaga o que Maradona fez no passado. Nada. E nada que Maradona fez no passado se sobrepõe ao que Messi fez hoje. Pelo simples fato de estarem em épocas diferentes. O futebol mudou demais. É clichê o que estou escrevendo, eu sei. Mas só isso justifica o fato de compará-los não leva a lugar algum. Talvez eu escolha Maradona por memória afetiva: por vê-lo destruir a defesa da Bélgica numa semifinal, por ele dominar as ações das partidas durante 90 minutos das partidas No entanto, não se compara ao que Messi vem fazendo no futebol moderno, competitivo, com jogos e jogos de força, marcação, velocidade… Messi merecia demais essa Copa. Assim como Maradona em 86. Cada um no seu tempo. E priu!
No Brasil, através dos tempo, vimos craques, gênios… Cada um no seu tempo. Pelé, para mim, é um Deus. Jogava em todas as posições, em todas as situações, aplicava dribles incríveis. Um homem a frente do seu tempo. Não foi à toa que o mundo inteiro homenageou após o seu falecimento. Foi emocionante. Eu que não o vi jogar, fiquei relembrando os dribles, os gols, as jogadas que vi através dos documentários e vídeos na internet (obrigado, tecnologia). Mas o que será das gerações que estão por vir. Certamente, haverá a caça a um ídolo, a um mito, a uma lenda…. E comparações serão inevitáveis. O que não pode é apagar a importância das suas ações, atitudes, escolhas. A força que o futebol brasileiro tem hoje deve-se muito a Pelé. O homem que criou a magia da Camisa 10 é o raro caso de um craque que venceu a amargura do tempo.
No entanto, há os que sofrem com o esquecimento coletivo, com o temporal que borra o que as letras da história, o que incomoda bastante os protagonistas do atual futebol brasileiro. E olha que hoje temos tantos elementos para deixar marcada a história. As redes sociais é uma delas. Mas eles próprios esquecem de valorizar quem o máximo pelo futebol brasileiro. Os atletas que conquistaram o tetra e o pentacampeonato mundiais pela seleção brasileira não foram ao velório do Rei Pelé na Vila Belmiro, em Santos. E olha que foram 24 horas de cerimônia. A exceção foi o ex-volante Mauro Silva. Mas há quem diga que ele só foi porque é diretor da Federação Paulista. Nada explica, infelizmente. Ah…. o elenco da atual seleção também não esteve por lá. Nem Tite, muito menos… Bem, ninguém. É triste. Espero que ninguém mais fale sobre respeito a memória, lembranças e etc…
Mas reforço a ideia de que cada um tem o seu tempo. Cada um tem o seu papel. E ninguém apaga o de ninguém. Comparar é só para ter assunto para se debater, trocar ideia e… só. Mas os craques de tempos diferentes são craques. Gênios também. Afinal, parafraseando Woody Allen no genial filme Meia-noite em Paris: Nenhum tempo é ruim se a história é intensa e verdadeira.