Foto: Instagram/Europa League
Por Daniel Schvartz
Pela primeira vez, os dois campeonatos de futebol mais importantes da Europa serão decididos por equipes do mesmo país. Na Liga dos Campeões, Liverpool e Tottenham decidem o título em Madrid, no dia 01 de junho. Já Arsenal e Chelsea se enfrentam pela Liga Europa, no dia 29 de maio, em Baku, capital do Azerbaijão. E é aí que vive a polêmica dessas finais…
A pergunta é: por que a UEFA escolheu Baku para receber a final? Vale deixar claro que o questionamento não busca desvalorizar os Azeris ou o país. Eles têm o direito de se candidatar. O erro é exclusivamente da organização que gere o futebol no velho continente e causou reclamações até dos técnicos Klopp e Pochettino, que disputam a final da Champions.
O estranhamento pela escolha não é difícil de ser compreendido. Para começar, o Azerbaijão é considerado um país intercontinental. É dividido entre Europa e Ásia. Depois, os custos para os torcedores estão elevadíssimos. Seja para ingressos ou passagens, já que o único meio de chegar é por avião. Os valores para esta viagem devem chegar a, no mínimo, R$5 mil.
Mas, o pior não é isso. Afinal, gente com dinheiro tem em todo canto. E, os que não têm esse valor, fazem de tudo para ver o time do coração em uma final importante. Porém, a situação do jogador Henrik Mkhitaryan é ainda pior. Ele, na teoria, não gastaria nada para estar lá. Na verdade, ele iria entrar em campo e defender a camisa dos Gunners. Porém, por ser Armênio, não pode entrar no país sede da final. Como nem a UEFA e nem o clube podem garantir a segurança do jogador, ele foi cortado da lista do técnico Unai Emery.
Essa situação já havia ocorrido com Mkhitaryan. Em 2015, quando jogava pelo Borussia Dortmund, da Alemanha, o jogador ficou de fora de uma partida da mesma competição, contra o Qabala, equipe do Azerbaijão. Nesse caso, a UEFA não poderia fazer muita coisa. Afinal, não se pode tirar a oportunidade da equipe de um país disputar a competição, por mais que os direcionamentos políticos ultrapassem o limite do convívio e do esporte. Mas, o problema já era do conhecimento da organização, que parece não ter dado muita importância ao escolher Baku como sede da final desta temporada.
Qual o conflito afinal?
A briga entre a Armênia e o Azerbaijão começou em 1988. Tudo por conta de um pedaço territorial chamado Nagorno-Karabakh. Antigas repúblicas soviéticas, a faixa de terra havia sido entregue ao Azerbaijão pela URSS, mesmo depois de uma votação favorável do comitê soviético aos armênios (4×3), maioria na região. O conflito se alongou até 1994, quando foi acordado um cessar fogo e a vitória do grupo karabakhi (separatistas), que proclamou a independência. A tensão continua até hoje, com possibilidades frequentes de ataques dos dois lados.
Atualmente, a região é governada pela República de Artsaque, que mantêm uma relação próxima com a Armênia, que apóia militarmente o movimento separatista. Inclusive, a bandeira criada pelos separatistas é bem parecida com a dos Armênios.
Já o Azerbaijão convive, até hoje, com uma série de censuras e crimes políticos. Uma mesma família tem governado o país desde 1993. Com a morte de Heydar Aliyev em 2003, o filho, Ilham Aliyev assumiu o posto. A família também é acusada de usar o poder para facilitar aquisições de empresas e outros tipos de bens, dentro e fora do país, visando o enriquecimento próprio.
De volta à UEFA…
Após nos depararmos com vários escândalos envolvendo a CBF, FIFA e até a UEFA, não tem como achar a escolha de Baku normal. Um país que mantêm uma guerra na fronteira e vive um regime ditatorial, não poderia ganhar apoio de uma das maiores instituições do futebol. Escolhas como essa só trazem margem para julgamentos.
É triste saber que grande parte dos torcedores não poderá acompanhar um belo jogo. É um absurdo o jogador não poder disputar uma final por conta de problemas políticos. É uma lástima ver dois países em guerra por conta de uma região montanhosa. Mas, é pior ainda ver que nada disso tem valor quando se tem dinheiro envolvido.