Não é de hoje que escuto as variáveis lamentações: “O futebol pernambucano está em crise”; “Estamos perdendo espaço para outros estados que não tem tradição no futebol”; “Do jeito que estamos seguindo, o nosso futebol vai acabar”. Pois bem, não acabou. Mesmo o esporte se fortalecendo no mundo dos negócios, do marketing… ainda segue vivo o sentimento do torcedor, que ama seu clube e não cansa de consumir as cores por qual o seu coração palpita. A rivalidade dos três clubes da capital é algo muito positivo que faz essa paixão crescer. O problema é que essa paixão limita a visão dos dirigentes que comandam o nosso futebol. Eles creem que esse amor basta. E que o torcedor não precisa de mais carinho. Aí, caímos na rotina. Estagnamos!
Enquanto a Federação Pernambucana de Futebol estampar em suas entrevistas, palestras, discursos e reuniões afirmar que temos o segundo melhor campeonato estadual do Brasil (perdendo apenas para o Paulista, segundo os dirigentes), não avançaremos. É querer empurrar goela abaixo do torcedor e da imprensa uma mentira que todos nós já estamos cansados de ver. E como crer que teremos um novo horizonte? Primeiro passo: enxergar nossas limitações e buscar as soluções. É tão simples. Basta ter o mínimo de vontade.
Vejam o caso da interiorização do futebol do Estado. É muito bonito ver o empenho dos dirigentes da FPF querer as participações dos clubes do interior disputando a competição e atrapalhando a vida dos grandes da capital. Em 2018, o Sport caiu diante do Central. Em 2019, foi a vez do Santa Cruz ser despachado pelo Afogados, em pleno Arruda. Fatos incomuns. Raros.
O que é a realidade é que a maioria dos clubes não tem estrutura para a disputa. Os estádios são precários. Boa parte desses times estão jogando fora das suas cidades. A Arena de Pernambuco se transformou em refúgio para alguns deles. Não vemos evolução nesse sentido porque a sociedade de uma forma geral não abraçam os clubes da cidade. Não há apoio. E a coisa se deteriora. Vejam o caso do Carneirão. No início dos anos 90, era o caldeirão do Vitória. Hoje, está largado. E o Ademir Cunha, em Paulista? É daquele jeito abandonado desde que me entendo por gente. Ninguém mexe uma palha. Pensei que a Copa do Mundo de 2014 fosse um bom motivo para alguma empresa abraçar a causa. Mas nem isso.
Essas deficiências se repetem ao longo dos anos. E ninguém tem um plano para solucionar. Nem que seja a longo prazo. O torcedor foi se afastando do estádio e ninguém encontrou um atrativo para que ele voltasse para as arquibancadas. Além da falta de estrutura, a violência é outro fator que deixa a maioria preferindo ficar em casa assistindo pela TV ao invés de correr o risco de sofrer alguma agressão gratuita. É necessário um plano de ação. Algo que não é difícil de fazer. Para completar, o regulamento do Estadual não facilita: na primeira fase, dez clubes na disputa e apenas dois são eliminados. Nesse ano, um deles foi eliminado porque jogou de forma irregular. Pense numa disputa fria!
Aí, o torcedor afirma: “o Estadual não serve para nada!”. Serve sim. É só perder o título para esse torcedor mudar de opinião e reclamar do time que não foi campeão e pedir contratações. Conquistar o estadual está dentro do roteiro de todo clube. Ninguém entra em campo para perder. Uma conquista cria uma atmosfera positiva e enche de energia para a equipe buscar voos mais altos. É ter o bom senso de uma avaliação.
Epa… Acho que encontrei a palavra certa: “bom senso”. O texto que está se encerrando não visa deteriorar o futebol pernambucano. Mas levantar questionamentos. Qual trilha queremos seguir? O que fazer para voltar a viver os tempos de ouro no futebol nacional? Nos anos 60, tivemos o Náutico. Nos 70, o Santa. E nos 90/2000, o Sport. Isso ficou bem pra trás. Após as cifras do mundo da bola dispararem, não entramos nesse ciclo de evolução.
No Brasileirão de pontos corridos, apenas em três anos um clube fora do eixo Rio/São Paulo foi campeão: o Cruzeiro. A nossa meta é se manter no meio da tabela da Série A. Quem sabe, beliscar uma briga por Libertadores. Mas, para isso, precisamos de um equilíbrio. Algo que não conseguimos. O Sport foi campeão da Copa do Brasil em 2008, mas não decolou. Brigas políticas degringolaram o Leão. O Santa Cruz chegou até a Série D. Foi bravo de regressar à elite. Mas quem disse que se manteve? Caiu e já tá na C novamente. E o Náutico… no ano em que teve mais dinheiro, foi rebaixado.
Será que custa algo criar um núcleo de trabalho, expor nossas deficiências e buscar soluções? O preço será o tempo que cada um envolvido vai se dedicar a esse estudo. E o lucro será o fortalecimento do nosso futebol. Recentemente, os técnicos Dado Cavalcanti e Roberto Fernandes tiveram iniciativa de organizar um grande encontro de jogadores, dirigentes, jornalistas, empresários, entre outros amantes do futebol, para debater o assunto. A ideia foi super válida. Afinal, era preciso dar o primeiro passo. Mas precisamos ter continuidade. Produzir um relatório final, avaliar os prós e os contras para que tudo aquilo discutido não fique para trás.